Depois de algum tempo em recesso, vou mudar um pouco as coisas. Saindo um pouco do estilo de texto comum que publico aqui, vou comentar duas manchetes interessantes que saíram em revistas nesse fim de semana.
A primeira é a notícia da Carta Capital, #protesto, que trás o subtítulo: “Convocados pela internet e sem a medição de partidos ou sindicatos, manifestações explodem de Norte a Sul”.
Pois bem, a revista trata do mesmo assunto que eu tratei aqui em outros dois textos, e sem dúvida começa agora a causar cada vez mais debates. E não faltam exemplos trazidos pela notícia: Revolta de Jirau, Greve dos Bombeiros, Marcha da liberdade, a revolta em Vitória, e por ai vai. E em todos estes movimentos faltam aquilo que até agora parecia essencial para fazer política: sindicatos ou partidos.
Esta falta de líderes trás alguns receios. Até que ponto é realmente possível organizar um grupo, exigir reivindicações e ter importância política sem uma hierarquia, sem representantes? O medo é sempre a barbárie. O medo é que um grupo, uma massa – sem a direção clara a seguir – cultive mais os sentimentos irracionais do que os racionais. A Carta Capital trouxe, por exemplo, uma entrevista aonde o entrevistado afirmou que a revolta em Jirau saiu do controle, pois nem os trabalhadores sabiam ao certo o que eles queriam.
Talvez seja errado sair do pressuposto de que qualquer grupo sem liderança resulte na barbárie. Talvez seja muito errado. Mas é preciso alguma boa estrutura que tome o lugar do líder; do partido político; do sindicato. Não basta levar um bando de gente pra rua e sair gritando; não basta fazer uma revolta sem saber o que reivindicar. Não que este tenha sido o caso em Jirau (eu não estava lá pra saber), mas sem duvida é um caso muito passível de acontecer. O desafio, agora, é achar um sistema justo que de conta de suprir aquilo que a carência de uma liderança proporciona.
Possível, certamente é. Ou pelo menos eu espero que seja. Mas é sem dúvida um desafio para estas manifestações, para este novo grupo de insatisfeitos importados diretamente do facebook e do twitter.
Tomara mesmo que renasça nos adolescentes a perspectiva de mudança política. Tomara mesmo que as novas ferramentas on-line, tão difíceis de serem entendidas pela rapidez com que criam, transformam, e destroem, resultem em alguma mudança positiva. Mas isto ainda vai demorar algum tempo. Mas será o tempo “real” ou o tempo “digital”?
Além disso, como diria meu professor de história (que nenhum adjetivo da conta de descrever): “Não há revolução sem teoria”. E eu diria mais: “Não há revolução sem teoria e tão pouco sem organização”.
A segunda notícia, PASMEM LEITORES, é da revista Veja São Paulo. Isso mesmo: eu estou trazendo uma matéria que saiu na tão odiada Veja, aquela que tem 2pgs de propaganda pra 1pg de notícia.
Respeito Atropelado. Opiniões jornalísticas sobre o título e o modo de escrever aparte, trata-se de uma análise crítica da nova campanha da CET de educação no trânsito. Campanha esta que prega o respeito ao pedestre, principalmente no referente a faixa de SEGURANÇA. SE-GU-RAN-ÇA. “Estado, qualidade ou condição de seguro”. SE-GU-RO: “Livre de perigo; Livre de risco; Protegido; Acautelado; Garantido”. Todos os motoristas entenderam o que significa FAIXA DE SE-GU-RAN-ÇA?!
Pois bem, agora podemos continuar: a reportagem trás uma análise crítica desta nova campanha. E, na verdade, mete o pau neste nova campanha. E cara, apesar de se tratar da Veja, não é que a reportagem levante pontos muito interessantes?
Até agora, tudo o que eu tinha ouvido sobre a nova campanha eu tinha achado legal. Respeito a faixa de pedestre, educação do motorista, mudança de hábito. São coisas boas. Mas a maneira é como fazer isto, e ao que parece, a prefeitura escolheu uma maneira incerta. A revista afirma, e faz sentido: a campanha da CET foca muitas vezes em cruzamentos com semáforo de pedestre. Acontece que o respeito a estes cruzamentos já existe! Não é comum algum carro passar no sinal vermelho (pelo menos, não durante o dia). Acontecer, acontece, mas não é o grande problema. O grande problema é a faixa de segurança que não é segura!
Nestas faixas, a ação da CET foi colocar uma pessoa com uma cancela, que coordena a passagem de carros e pedestres, e vem escrito “respeite a vida”. Ou seja: a pessoa é um farol inteligente. Então, ao invés de respeitar as faixas sem farol, a CET colocou temporariamente um farol humano ali. Quando o “farol” sumir, o respeito some junto.
Além disto, a campanha é tão falha que não propõe nem o cumprimento do código de transito, que afirma que desrespeito a faixa de pedestre é multa gravíssima, com 7 pontos na carteira. Não faz parte da campanha uma onda de fiscalização do respeito a faixa de pedestre, passível de punição para os infratores. Se a repressão financeira não é a única ferramenta para ensinar bons hábitos, é no mínimo importante. Querer que os motoristas adquiram este habito sem doer no bolso, desculpem-me quem discorda, é otimismo.
As pessoas não tem noção que desrespeitar a faixa de pedestre é colocar em risco a vida de alguém. É pior que passar no sinal vermelho. Porque se dois carros se chocam, há toda uma proteção de metal feita para proteger o motorista. Mas se um carro bate numa pessoa, que proteção esta tem? Nenhuma. Então quem me explica o avanço no sinal vermelho ser passível de uma quantidade enorme de multas, e o desrespeito a faixa de pedestre – que coloca mais em risco a vida alheia – não render nem uma multa? É burrice. Burrice esta que a campanha não consegue resolver.