Era 1992, e centenas de milhares de estudantes tomara a avenida paulista, com suas caras pintadas, com uma única exigência: Fora Collor!. E o Collor se foi.
Vai fazer 20 anos desde que a ultima grande manifestação estudantil tomou forma em São Paulo. Desde então, houveram cada vez menos grande manifestações na paulista, e o movimento estudantil parecia entrar definitivamente em decadência. Eu vivo esta época, em que protesto e manifestação significa, para o paulistano, transito e maconheiros sem vergonha.
Mas algo esta mudando. No começo deste ano, um grupo de estudantes tomou as ruas por 13 vezes. Centenas de milhares de estudantes? Longe disso: apenas 2mil por passeata, em média, chamando o povo para ir as ruas contra o aumento absurdo da tarifa de ônibus. Depois de 10 quintas feiras seguidas de manifestação, o movimento se apagou, sem sucesso.
Ao mesmo tempo, no começo do ano, um movimento nacional ameaçou surgir contra o abusivo aumento salarial dos parlamentares, de quase 70%. A faísca se apagou depois de levar algumas poucas centenas de estudantes as ruas em 5 capitais diferentes do Brasil simultaneamente.
No M’boi mirim, aonde a carência do transporte urbano desta cidade atinge um pico, já foram no mínimo 3 manifestações diferentes levando reivindicações à sub-prefeitura.
Chegamos ao presente mês, maio, quando vimos uma mudança do local do metrô Higienópolis causar um churrasco de gente “diferenciada” no centro de um bairro de elite; e, quase em seguida, a violenta repressão a Marcha da Maconha (um absurdo ridículo) dar luz a Marcha da Liberdade, que ocorreu no último sábado, com algo entre 2mil e 5mil presentes.
É impressão minha, ou parece que algo esta mudando?
Estamos longe, MUITO longe de chegar aos 100mil estudantes de cara pintada que tomaram a Paulista. A verdade é que era uma outra época, com uma outra cultura, com uma outra mentalidade, com uma outra juventude – a juventude que, hoje, parece ter chegado a vida adulta e se esquecido de como se manifestar. Mas neste ano, os políticos, principalmente nosso ilustríssimo prefeito Kassab, devem ter coçado a cuca e começado a se perguntar: que diabos esta acontecendo? Porque estas pessoas estão vindo encher meu saco?
Sem dúvida, parte da culpa é da internet. Ou melhor, dando nome aos bois: boa parte da culpa é do facebook. Já tratei deste assunto aqui em outro texto, enquanto comentava a revolta Egípcia, e volto a repetir: esta ferramenta deixou incrivelmente fácil marcar uma manifestação. Panfletos que nada: basta criar um evento e convidar todos seus 1000 amigos, que vão chamar mais 100 amigos cada, e o efeito cascata esta feito.O estrago esta feito: nada vai cancelar este protesto. Este efeito é tão assustador que apavorou até mesmo o criador do churrascão de gente diferenciada, que ao ver o tamanho que a coisa tomou arreou o pé.
As manifestações, que cada vez mais vem tomando a mídia e, consequentemente, atraindo mais gente, estão se tornando cada vez maiores e mais freqüentes.
Elas continuam restritas a uma relativamente pequena parte desta elite mais intelectualizada, que forma a grande parte dos manifestantes (ou, como preferem chamar os conservadores, bando de maconheiros sem ter o que fazer). E é por isto que as reivindicações ainda levam pouca gente para as ruas. Mas os policias estão tendo cada vez mais trabalho em reprimir, digo, proteger as manifestações.
É cara, os políticos que se cuidem. Porque quando a reivindicação for por alguma causa mai ampla – alguma carência maior que se estenda mais profundamente na sociedade – vai ser como ascender a ponta de um fio ligado a diversos barris de pólvora. Porque quando a massa estudantil perceber como é bom estar em um grupo, nas ruas, com uma revindicação justa nas mãos, vai ser difícil segurar.
Será sonho meu?
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