“Ter orgulho de ser brasileiro” – a gente já esta de certa forma acostumado com esta frase, que já virou um jargão popular, repetido sem pensar por inúmeras cabeças brasileiras. Esse nacionalismo estranho é uma criação da cultura e da história, esta noção de que o Brasil é aquela terra linda e maravilhosa que surpreendeu os europeus com sua beleza exuberante quando eles chegaram aqui. Terra de gente boa que eram os índios, e de infinitas riquezas naturais guardadas na Amazônia.
Mas é bem verdade que, ultimamente, não é fácil assim achar motivos para empregar a tal frase. Do que temos orgulho no Brasil? Poucas coisas. Temos a Amazônia (pelo menos boa parte dela, acho eu); temos a tal cidade maravilhosa (que, todos sabemos, tem la seus defeitos); temos a alegria do povo brasileiro (que nem é la tão alegre); temos a seleção (que já não faz tantos gols assim); e temos o carnaval.
Ah, o carnaval. Sábado, domingo, segunda, terça e quarta até o meio dia. Cinco dias de festa e alegria, que dão orgulho por ser a maior festa popular do mundo. Não se vê em nenhum outro lugar tantos blocos saindo as ruas com tantos foliões seguindo, cantando, dançando, bebendo e mijando na rua . Em Olinda, tem boneco gigante; em São Paulo e o no Rio, desfile com enormes carros alegóricos; na Bahia, trios elétricos famosos. O país pára, tudo fecha.
É uma festa para afogar as mágoas, esquecer a tristeza, se vestir de palhaço e cair na folia. Pra fingir que ta tudo bem e que o importante é ser feliz acima de tudo. Não que seja verdade, certo? Mas não é o objetivo aqui escrever que o carnaval é falso ou que é cultura inútil, como muitos dizem. Nem para lembrar pro brasileiro que, passadas as 12h de quarta feira, tudo volta ao normal. Nem pra argumentar que a ideologia do carnaval é dizer que não importa seus problemas, é só ir pra folia que tudo vai se resolver. Muito pelo contrário. Enquanto vejo Salgueiro desfilar, depois de me encantar com o medo de Unidos da Tijuca ontem, resolvo entrar na brincadeira. E um lado mais irracional, aqueles que a gente gosta de reprimir mas nem sempre consegue, insiste em repetir para mim: “ah, até que eu tenho orgulho de ser brasileiro”.
E embora eu saiba que isto é uma construção da história e da cultura, e que nem o carnaval, nem o futebol, nem a Amazônia e nem o rio de janeiro são motivos de orgulho por ser brasileiro, hoje tudo isto não importa. Hoje, o cristo esta abençoando a cidade e os turistas que se esbaldam com o samba. A alegria do brasileiro está na rua, durante a noite toda, desfilando na Sapucaí e nas milhares de ruas e avenidas que mais pareçem o sambódromo.
Na quarta feira de cinzas, entre a tristeza de voltar a ter obrigações e a pressa do dia a dia, voltarei a me preocupar com transporte publico ou com a Líbia. Hoje, não.
Uma parte de mim fica feliz por você parar um pouco de ser esse estressado e revoltado que você é e relaxar um pouco, mesmo que seja com o carnaval. Mas outra parte de mim quase que berra "Sério? Mesmo? Mesmo mesmo? Pelo amor, Vitor, de todas as pessoas do mundo, você é a última que eu esperava que curtisse carnaval". Mas longe de mim querer acabar com a sua graça.
ResponderExcluirCarnaval tem esse lado meio alienante, misturado com o espírito camarote da Brahma, abadá, disputa pelo direito de transmissão e coisas do tipo. Mas tem tb um lado popular (e democrático) que não pode ser desprezado:subversão de regras, possibilidade de ter voz de fugir da lógica da ordem estabelecida. De se permitir mais prazeres...
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