segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma carta para São Pedro.

São Pedro,
                Escrevo esta carta com intuito de manifestar a indignação do povo brasileiro – um dos povos com maior número de católicos ao redor do mundo – com o serviço de péssima qualidade que vem sendo prestado ao longo dos últimos anos e, arrisco dizer, ao longo de toda a ultima década.
Entendo que V.S.ª tenha um mundo inteiro para cuidar, e que as ações do homem venham, cada vez mais, dificultando sua penosa tarefa de regular as chuvas ao redor do planeta. Mas requisitamos que V.S.ª se empenhe mais em sua tarefa e proponha, com a devida urgência, uma reforma chuval. Tal reforma – como nunca antes vista na história deste planeta – deve ter o intuito de revisar e redestribuir o revezamento de chuvas ao redor do globo, tendo como indispensável e prioritário critério a capacidade do país em preparar-se para tais acumulados. Vista o exemplo de janeiro, quando acumulados muito semelhantes de chuva atingiram a Cidade Maravilhosa ao mesmo tempo que boa parte da Austrália, na Oceania: como pode o senhor, em nome Dele e da Sagrada Justiça, achar cabível que dois países completamente diferentes em seus respectivos quadros econômicos-politicos-ambientais-sociais viessem a receber a mesma quantidade de água? Como pode ser justo, perante a Deus, que os mortos no Rio beirem a 800 enquanto, na Austrália, não passassem de 10? V.S.ª não se sente culpado? Não seria pedir muito, em nome do povo brasileiro, que alguns 100ml de acumulados do Rio caíssem na Austrália, aonde causaria transtornos bem menores graças a suas políticas públicas de alerta?
Mas não – parece que V.S.ª acha mesmo que as condições têm de ser iguais a todos, não importando suas condições. É como cobrar o mesmo imposto do rico e do pobre.
Pouco adianta culpar a localização geográfica do Brasil como país tropical: afinal de contas, não foste vosso amigo Deus que destinasse a nós esta terra? Então trata-se apenas de um assunto entre vocês, a ser resolvido de acordo com a burocracia que rege o céu, que não cabe a nós terrestres compreender. Do mesmo modo, gostaríamos de ressaltar que a teoria do efeito estufa já não pode mais satisfazer nossa sede de justiça divina, uma vez que, novamente, o único possível culpado de uma mudança climática global é Deus, que falhou em sua tarefa de educar e controlar sua própria criação (o homem).
                Não é em tom de ameaça, e sim como uma maneira de chamar atenção de V.S.ª, que ressaltamos que várias outras religiões já entraram em contato – inclusive religiões indígenas que estavam a muito esquecidas – e vem nos repetindo a promessa de melhores condições chuvais caso aderíssemos a seus rituais, com danças da chuva e do sol, por exemplo. Não seria surpreendedor caso houvesse uma migração em massa de seus seguidores para tais religiões, caso a solicitação aqui presente não seja logo considerada.
                Tão pouco seria extraordinário caso o costume de colocar Santo Antônio de cabeça para baixo no copo d’água fosse também adotado a sua imagem, em manifestação as decorrentes injustiças aqui denunciadas.
                Aguardamos resposta. Esta carta deverá ser entregue assim que parte dos 50 pontos de alagamentos da cidade de São Paulo estiverem transitáveis.

                Atenciosamente,
                               Movimento Chuva Justa (MCJ)
                 

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