quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O escape social

O Egito, políticas a parte, deu um exemplo ao mundo – fez uma revolução quase pacífica que acabou com 30 anos de ditadura em 18 dias de protesto. Na Itália, os escândalos de Berluscone já levou milhares de pessoas às ruas. A população do Irã, seguindo a onda de protestos do oriente médio, enfrenta balas de borracha e bombas de efeito moral para dizer não a um governo duvidoso. E o Brasil – temos de nos orgulhar – expulsou o Roberto Carlos do Corinthians.
É preciso entender que o futebol, no Brasil, deixou de ser apenas um esporte; um entretenimento. Ele é mais importante que a política. Ele é o ponto máximo da alienação e o ponto de escape da raiva social. Ele que reúne dezenas de milhares de pessoas de sábado, domingos e – pasmem – de quarta feira a noite. Ele que define se você vai ser o zuado ou o zuador durante a semana, e é um dos únicos motivos bons o bastante para fazer o povo brasileiro protestar por alguma coisa.
Não é a toa que torcida organizada já é sinônimo de brigas ou de bagunça. Todos gostam de se sentir parte de um grupo, de ter um motivo para comemorar ou cobrar e de se encontrar com milhares outras pessoas por um mesmo motivo. É la que a raiva dos jovens é descontada – tanta energia gasta sem nenhuma conseqüência que realmente importe. A revolta do Corinthians pela eliminação da Libertadores; a revolta dos coritibanos a 2 anos atrás, entrando em campo e agredindo policiais; as inúmeras brigas com vitimas entre torcidas organizadas. Todas só ilustram como o futebol é uma poderosíssima arma de manipulação: dá a uma parte da sociedade o sentimento de revolta e de grupo de que ela carece, sem que haja uma única conseqüência para o Estado.
Mas a culpa é da história. Ela que manteve o povo excluído da política desde o começo, com os portugueses. Ela que garantiu que a Elite agrária permanecesse no poder, sempre iludindo o resto do povo. Ela que atrasou em meio século a industrialização brasileira. Ela que, eficientemente, criou a ideologia do “povo pacífico”, que não vê a necessidade de confrontos. E ela que, para suprir as carências criadas por si própria, transformou o futebol no que ele é hoje. Tudo isto com o apoio incondicional da grande mídia.
Se é verdade que o povo se revoltou com a ditadura, a idéia parece ser que depois dela tudo o que vier é lucro.
E é assim que vivemos bebendo, “porque sem a cachaça ninguém segura esse rojão”, como diria Chico Buarque.

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