terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tem que comer para poder crescer.

                  Quando a gente é criança, nossas mães falam que a gente precisa comer para crescer forte e saudável. Por isto que a gente tem que comer todo o brócolis, espinafre, couve-flor e tomar o caldinho da sopa até o fim, porque ele é que vai te deixar forte e transformar você num homem alto e bonito. Então a criança come, come, come e, com o tempo, cresce, virando um pré-adolescente. Ai a mãe continua falando que ele tem que comer muito, sem se importar com engordar, porque ele ainda vai dar aquele espichão. Depois do espichão, na adolescência, a mãe perde espaço e o garoto come muito porque sabe que tem que aproveitar, já que logo logo aquela comida vai deixar de se acumular na vertical para se acumular na horizontal. E ai, depois de muita batata frita, brócolis, couve flor e caldinho de sopa, a gente chega na fase adulta.
                Nesta fase, a gente não ouve mais da mãe que tem que comer muito pra continuar a crescer. Se sua mãe for atenciosa, vai aconselhar repetidamente o contrário, com comentários como “olha lá hein, essa barriga ai já foi menor” ou “Você vai comer esse hambúrguer inteiro?” ou mais direto como “você TEM que fazer uma dieta!”. Não tem mais essa de crescer, a gente come somente o que a gente precisa para se manter estável. Ninguém fala: “nossa, hoje vou me encher de comida para, no futuro, eu ser uma velinha muito saudável”. O jeito é mesmo fechar a boca, empurrar a gula pro lado e resistir a aquela saliva que vem na boca quando vemos um doce da Ofner da esquina.
                Bom, seja o humano uma criação divina ou obra de milhões de anos de seleção natural, há de ser um consenso que a natureza fez um belo trabalho.
                Mas me parece haver dentre os pertencentes à espécie humana algum tipo de síndrome, uma obsessão doentia que busca desenfreadamente contrariar a lógica forjada durante bilhões de anos. Um lampejo ideológico que nos leva a sentir aquele orgulho nacionalista sempre que ouvimos o Willian Borner dizer que o país cresceu 0,5% a mais que o esperado. “Ora, o Brasil esta ai! É um dos BRIC (países emergentes de destaque mundial), a base da economia mundial neste século. Finalmente o país do futuro vai conhecer seu amanhã, e poderemos viver felizes como a Europa ou a America do Norte”.
                Acontece que um dia, enquanto sofria de meu lampejo ideológico, acabei sem querer pensando “ótimo, o Brasil cresceu 7,5%. Quanto será que falta para chegarmos...”. E eu me senti atingido na cabeça por um piano. Eu não sabia completar a maldita frase. Com certeza deveria haver um lugar para chegar, caso contrário não estaríamos tão orgulhosos de nosso país ser um dos que mais crescem no mundo. Será que queríamos chegar à Europa, ou nos Estados Unidos? Se for o caso, aonde eles – os países desenvolvidos – querem chegar quando dão duro para crescer? Não me levem a mal, é claro que eu adoraria que o país crescesse e nós erradicarmos a miséria, mas será que depois que isso acontecer, a gente não vai querer crescer ainda mais?
                Eu só pude sorrir novamente quando me lembrei que, se eu comer mais do que devo, vou engordar. E toda vez que o homem desafia as leis da natureza, ele descobre que não da certo. Agora, toda vez que ouço a palavra capitalismo, minha fértil imaginação cria a imagem de um homem de 50 anos muito gordo, com aquela pele que fica soltando óleo e com tanta gordura que ela até fica se arrastando pelo chão. E eu durmo com a certeza de que, um dia, não caberá mais comida no estomago do homem, e ele virá a explodir ou ter um infarto fulminante. E com a esperança de que, quando isto acontecer, nós possamos nos espelhar na natureza e criar um sistema que cresça visando algum objetivo, preferencialmente social. E meu neto ligará a TV para ouvir o neto do Willian Borner dizer que o país havia diminuído, e estava quase do tamanha ideal.
                Meu Deus, será que eu pirei?!

Por: Vitor Quintanilha Barbosa

3 comentários:

  1. E úma esécie de derivação do marxismo??

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  2. Humm... Toda vontade revolucionario não vai acabar sendo, de uma forma ou de outra, uma derivação marxista?

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