segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma carta para São Pedro.

São Pedro,
                Escrevo esta carta com intuito de manifestar a indignação do povo brasileiro – um dos povos com maior número de católicos ao redor do mundo – com o serviço de péssima qualidade que vem sendo prestado ao longo dos últimos anos e, arrisco dizer, ao longo de toda a ultima década.
Entendo que V.S.ª tenha um mundo inteiro para cuidar, e que as ações do homem venham, cada vez mais, dificultando sua penosa tarefa de regular as chuvas ao redor do planeta. Mas requisitamos que V.S.ª se empenhe mais em sua tarefa e proponha, com a devida urgência, uma reforma chuval. Tal reforma – como nunca antes vista na história deste planeta – deve ter o intuito de revisar e redestribuir o revezamento de chuvas ao redor do globo, tendo como indispensável e prioritário critério a capacidade do país em preparar-se para tais acumulados. Vista o exemplo de janeiro, quando acumulados muito semelhantes de chuva atingiram a Cidade Maravilhosa ao mesmo tempo que boa parte da Austrália, na Oceania: como pode o senhor, em nome Dele e da Sagrada Justiça, achar cabível que dois países completamente diferentes em seus respectivos quadros econômicos-politicos-ambientais-sociais viessem a receber a mesma quantidade de água? Como pode ser justo, perante a Deus, que os mortos no Rio beirem a 800 enquanto, na Austrália, não passassem de 10? V.S.ª não se sente culpado? Não seria pedir muito, em nome do povo brasileiro, que alguns 100ml de acumulados do Rio caíssem na Austrália, aonde causaria transtornos bem menores graças a suas políticas públicas de alerta?
Mas não – parece que V.S.ª acha mesmo que as condições têm de ser iguais a todos, não importando suas condições. É como cobrar o mesmo imposto do rico e do pobre.
Pouco adianta culpar a localização geográfica do Brasil como país tropical: afinal de contas, não foste vosso amigo Deus que destinasse a nós esta terra? Então trata-se apenas de um assunto entre vocês, a ser resolvido de acordo com a burocracia que rege o céu, que não cabe a nós terrestres compreender. Do mesmo modo, gostaríamos de ressaltar que a teoria do efeito estufa já não pode mais satisfazer nossa sede de justiça divina, uma vez que, novamente, o único possível culpado de uma mudança climática global é Deus, que falhou em sua tarefa de educar e controlar sua própria criação (o homem).
                Não é em tom de ameaça, e sim como uma maneira de chamar atenção de V.S.ª, que ressaltamos que várias outras religiões já entraram em contato – inclusive religiões indígenas que estavam a muito esquecidas – e vem nos repetindo a promessa de melhores condições chuvais caso aderíssemos a seus rituais, com danças da chuva e do sol, por exemplo. Não seria surpreendedor caso houvesse uma migração em massa de seus seguidores para tais religiões, caso a solicitação aqui presente não seja logo considerada.
                Tão pouco seria extraordinário caso o costume de colocar Santo Antônio de cabeça para baixo no copo d’água fosse também adotado a sua imagem, em manifestação as decorrentes injustiças aqui denunciadas.
                Aguardamos resposta. Esta carta deverá ser entregue assim que parte dos 50 pontos de alagamentos da cidade de São Paulo estiverem transitáveis.

                Atenciosamente,
                               Movimento Chuva Justa (MCJ)
                 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Gestão Kassab no transporte: Mentiras, Contradições e Superfaturamento.

                Normalmente, quando o assunto de algum texto que eu escrevo esta fortemente ligado a politica – como é o caso – eu me sinto um tanto nervoso. Porque entender politica, especialmente no Brasil, é mais complicado que fugir da Líbia: são inumeros discursos tentando influenciar você, uma quantidade inimaginável de interesses politicos maiores que o do povo e um sistema de leis complicado feito para não ter facil acesso.
                Mas aqui, mesmo que este texto trate boa parte sobre política, eu não tenho o menor receio de escrever. A verdade é que tão facil falar mal do Kassab que fica quase impossivel defende-lo, e quase sem graça critica-lo.
                Primeiro, gostaria de relembrar ao leitor que, quando a gestão Serra (2 anos) e Kassab (5 anos) começou, a tarifa do transporte publico viario metropolitano – o famoso busão – estava R$1,70. Hoje, a R$3,00, o aumento chega perto de 100%. É necessario entender o que isto significa: fazer um viagem por dia custa, em São Paulo, R$180 reais por mês, e está entre a segunda e terceira maior despesa do paulistano. Se você tiver um filho e ele também fizer uma viagem por dia, são mais R$90,00. Se algum de vocês precisarem de metrô, então, o custo dispara para R$258,00 reais por mês para o pai, e R$129,00 para o filho (numa família de 4 pessoas com 1 viagem por dia de ônibus cada, o preço seria de R$540,00 por mês, 98% do salário mínimo) . Isto não apenas representa uma despesa insustentável para muitas familias, mas é um aspecto que impede que o cidadão tenha acesso a cidade como um todo, inclusive a serviços públicos, como educação e saúde. Se você tem uma consulta marcada e não tem a sorte que poucos tem de morar perto de uma UBS (Unidade Báscia de Saúde), ir ao médico custará no minimo R$6,00. Se tiver de ir acompanhado, R$12,00. É por isto que é correto afirmar que uma tarifa de R$3,00 é um enorme e insultante instrumento de exclusão social.
                Mas pareçe mesmo que nosso querido prefeito tem algum tipo de trauma de infância com pobre. Além deste enorme instrumento de exclusão social que ele transformou o transporte, ele expulsou todos os camelôs que ocupavam há decadas diversas ruas do centro; assim como proibiu termenantemente a apresentação de artistas de rua que peçam dinheiro. Uma ação ridicula com uma desculpa esfarrapada de que eles faziam “comércio ilegal”. O problema não querer retirar camelos do centro ou, até mesmo, os artistas de rua  – o problema é fazer isto de uma maneira extremamente iginorante. Proíbe, manda policia tirar e depois finge que pobre não existe. Não tem qualquer politica de inclusão destas pessoas em uma parte formal da sociedade, para que possam ter uma vida digna. Pareçe mesmo que, para o Kassab, pobre é pobre porque quer, e não tem nada que vir encher o saco dele ofereçendo ou pedindo qualquer coisa. Então tira ele da rua e finge que não existe.
                Mas voltando ao que deveria ser o foco deste texto, gostaria de chamar atenção para o orçamente de transporte dos ultimos anos. Quando, em 2008, Kassab prometeu não aumentar a tarifa de onibus por 2 anos, ele fez um dos atos mais populistas possíveis. A consequencia foi óbvia: ele simplesmente quebrou a secretaria de transportes, e o repasse de subsídios para as empresas de onibus (maneira da prefeitura baratear as passagens) alcansou uma impressionante cifra de mais de 800milhões de reais. Este dinheiro veio de nenhum outro lugar se não os outros investimentos previstos pela secretaria de transporte (como construção de terminais e corredores), assim como o dinheiro da arrecadação de multas, zona azul e diversas outras fontes que deveriam ser utilizadas para investimento, e não para garantir lucro de empresário. Vale dizer que, no desespero das contas que não fechavam, Kassab conseguiu aumentar a arrecadação de multas em 20% e aumentou o preço da zona azul em 30%, expandindo sua obrigação em inúmeras partes da cidade, como grandes parques (mais uma forma de exclusão social).
                Passados dois anos (em 2010), Kassab foi a imprensa e anunciou o reajuste de 17,5%, de R$2,30 para R$2,70, dizendo que o reajuste anual é o correto e significa transparencia. Uma contradição ridícula e escancarada com seu próprio pronunciamento das eleições de 2 anos antes.
                Mas o correto deveria ser que, após reajustar a tarifa mais do que a inflação do período de 2 anos em que ela ficou congelada, as contas da secretaria de transporte se normalizassem. Certo?
                Errado. No ano passado, todos os investimentos em terminais, corredores e expressos de onibus foram reduzidos a, pasmem, R$0,00. Nem um único centavo foi investido, de acordo com orçamento da prefeitura do ano de 2010 (http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/orcamento/orcamento_2010/orc2010_quadro_detalhado_despesa_2010.pdf). Todo o dinheiro foi repassado para as companhias de onibus em forma de subsídios, que alcançaram a cifra de 660 milhões de reais; e nem 1 metro de corredores ou terminais construídos. Só o transporte particular teve investimentos, e grandes, como o rodoanel ou a nova pista da marginal Tietê.
                Então chegamos a 2011, quando Kassab anuncia que a tarifa vai subir de novo, dessa vez para R$3,00, muito acima da inflação. Seguindo a lógica, o repasse em forma de subsídios para as companhias de ônibus deveriam diminuir, certo?
                ERRADO. O repasse vai aumentar cerca de 100milhões de reais (de R$660mi para R$750mi)
                A planilha de custos, feita pelo irmão de Gilberto Kassab que é dono de uma das maiores empresas de ônibus da capital, é escancaradamente superfaturada. A prefeitura nem tentou esconder – o preço do diesel, por exemplo, esta a R$1,85/litro na planilha, enquanto seu preço real é de R$1,70/litro. Só esta diferença já significa um aumento de 10 centavos em cada passagem. Enquanto o secretaria de transporte se esconde na desculpa de que trata-se de um novo tipo de diesel – o biodiesel – o fato admitido pela própria prefeitura é de que apenas 8% da frota de ônibus consegue circular com o combustível ecologicamente correto. Além disso, não houve aumento semelhante aos salários dos motoristas e cobradores dos ônibus.
                Este modelo de transporte público adotado por São Paulo – que já se mostrou ultrapassado e insustentável – não apenas prioriza cegamente o transporte privado (resultando na dificuldade de mobilidade urbana que vemos hoje em São Paulo) como se transformou, principalmente na gestão Kassab, em mercadoria, fonte de renda de empresários através de planilhas super-hiper-ultrafaturadas.
                É triste ver que toda a burocracia existente na política ainda permite que um escândalo destes não tenha nenhuma repercussão. Não fosse o MPL (Movimento Passe Livre) para denunciar e organizar manifestações, Kassab e seu irmão estariam desfrutando de dinheiro público fácil.
                Por isto, convido a todos para as manifestações do MPL contra o aumento da tarifa, e pondo em debate o modelo de transporte que querermos para a cidade. A próxima ocorrerá quinta-feira, dia 03/03, às 17h, na praça do ciclista (esquina da consolação com Paulista).
                Enquanto no campo político a negociação com a prefeitura começa a parecer viável, resultado de enorme pressão popular, uma nova reunião foi marcada para o dia 04/03, com o secretario de transporte (que não tem capacidade de mudar o aumento, visto que está é uma tarefa exclusiva do prefeito). Vamos ver se, desta vez, ele vai.


Por: Vitor Quintanilha Barbosa.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Manual para um bom motorista


            Andar de carro em São Paulo não é nada fácil. Exige muita atenção, sorte, paciência e alguns outros pré-requisitos. A idéia deste manual é facilitar a compreensão deste complicado sistema para os simples usuários.
            Número um: É necessário que o bom motorista entenda o que significa o transporte privado, e que ele tenha plena consciência de que o carro é a grande causa do trânsito em São Paulo; principalmente se você costuma dirigir sozinho e nem se importa em procurar um possível sistema de carona. Mas é indispensável que o motorista não ligue o bastante para protestar por um transporte publico bom.
            Número dois: O mal-humor é um dos pré-requisitos essenciais. É preciso acordar pré disposto a xingar e buzinar a todos os outros que, mesmo que sem querer, atrapalhar nossa vida em alguns segundos. Bom humor no trânsito simplesmente não rola; é necessário querer ser sempre o mais rápido e encarar todos aqueles que passarem em sua frente.
            Número três: Ter fé. Fé no Deus das Buzinas. Sempre que o trânsito parar sem razão aparente, buzine. Não importa se o cara do carro da frente teve um infarto ou se um terremoto destruiu a rua; sempre que o trânsito parar por mais de 20 segundos, enfie a mão na direção. A Buzina é um som sagrado, uma reza que pede proteção ao Deus do trânsito. Se, por acaso, o trânsito parar ao lado de uma escola, buzine o dobro, pois lugares aonde as buzinas são proibidas são os que mais agradam ao Deus.
            Número quatro: Reflexos. São essenciais. Se o semáforo abriu e o carro da frente levou mais de um décimo de segundo para andar, você já tem que estar buzinando. Se você esta a 50 metros de um semáforo e percebe que ele ficou laranja, pé na tabua rápido se não perde mais 30seg de sua vida.
            Número cinco: Obedecer apenas metade das leis de transito. Apenas as essenciais, como não andar na contramão e coisas do gênero. Falar no celular pode; virar sem dar seta também; parar em cima da faixa de pedestre não faz mal a ninguém.
            Espero ter ajudado as pessoas que se sentiam confusas em relação ao trânsito e, inocentemente, acreditavam que deveríamos entender que não somos os únicos a utilizar a rua e deveríamos respeitar regras.
            A quem anda de metro ou ônibus, há apenas uma regra essencial: ao comprar uma passagem, você tem direito a 1/11 (um onze avos) de metro quadrado dentro do transporte. Então nem tente pisar com os dois pés no chão!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Que Será!?

                Uma das maiores preocupações mundiais hoje em dia, encabeçadas pelos ecologistas, é a dependência e utilização de fontes de energia esgotáveis (entenda-se petróleo) e as consequências que isto trará para o mundo, tanto no meio econômico-produtivo – quando esta fonte se esgotar – quanto no meio ecológico, referente as conseqüências ambientais.

                Mas me interessa pensar em um outro tipo de recurso – bem mais abstrato, admito – mas que também tem sido intensamente explorado pelo ser humano e pode, se não se esgotar, mostrar-se uma bomba relógio: a ciência.

                Será que ciência é infinita? Poderemos continuar fazendo descobertas para sempre, sem que um dia esbarremos em paredes invisíveis de limitações sensoriais? Quão menor que o átomo conseguiremos ir? Porque sempre haverá algo menor – tem de haver, não tem? – mas nem sempre estará ao nosso alcance, pois o que há de existir ultrapassa demais as compreensões humanas. Então será que a ciência, um dia bem no futuro, há de se esgotar; chegar a um fundo intransponível por limitações naturais que não podemos negar?

                É tão difícil crer que a ciência pode-se acabar quanto crer que ela é infinita.

                O fato que pode ser constatado cada vez mais na história humana é que o conhecimento e principalmente a dominação da natureza que dele resulta não trazem resultados muito animadores. Muitos cientistas diriam que, com a tecnologia que já temos, estamos levando o mundo a beira do colapso – imagine então quando o conhecimento se expandir ainda mais. Quando transformar matéria em energia e energia em matéria não for mais mistério. Quando teletransporte for mais barato que a tarifa do ônibus. Quando criarmos uma bomba com capacidade de destruir um continente em um clique. Quando o raio lazer, ultrapassado,for vendido a preço de banana. Quando o mundo virtual for maior que o físico. Quando a medicina realizar transplantes e renovações de cérebro, criando a vida eterna em corpos diferentes. Quando houver remédio para tudo e formos capazes de transformar um elemento em qualquer outro sem nenhum esforço. Quando tudo for fácil demais.

                Se toda a tecnologia resultada do avanço cientifico fosse usada racionalmente e seguindo alguns princípios, talvez nós nos aproximássemos de um mundo perfeito. Mas a verdade é que nós já temos condições de criar um mundo bom, um mundo mais justo e menos miserável, mas o conhecimento não é aplicado para isto. A humanidade criou inúmeras regras sociais para a aplicação do conhecimento, que quase sempre não permite que ele seja usado para criar um mundo melhor.

                Antes a ciência parasse agora, congelasse. Já conhecemos o bastante e revolucionamos o bastante. O único desafio agora deveria ser aplicar esta tecnologia da forma correta. Mas isto é utopia. Porque o ser humano, o único animal racional, alienou-se com um sistema irracional criado por sua própria racionalidade que não conseguiu se livrar de seus instintos irracionais.

                Agora tenho certeza: eu pirei.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Tem que comer para poder crescer.

                  Quando a gente é criança, nossas mães falam que a gente precisa comer para crescer forte e saudável. Por isto que a gente tem que comer todo o brócolis, espinafre, couve-flor e tomar o caldinho da sopa até o fim, porque ele é que vai te deixar forte e transformar você num homem alto e bonito. Então a criança come, come, come e, com o tempo, cresce, virando um pré-adolescente. Ai a mãe continua falando que ele tem que comer muito, sem se importar com engordar, porque ele ainda vai dar aquele espichão. Depois do espichão, na adolescência, a mãe perde espaço e o garoto come muito porque sabe que tem que aproveitar, já que logo logo aquela comida vai deixar de se acumular na vertical para se acumular na horizontal. E ai, depois de muita batata frita, brócolis, couve flor e caldinho de sopa, a gente chega na fase adulta.
                Nesta fase, a gente não ouve mais da mãe que tem que comer muito pra continuar a crescer. Se sua mãe for atenciosa, vai aconselhar repetidamente o contrário, com comentários como “olha lá hein, essa barriga ai já foi menor” ou “Você vai comer esse hambúrguer inteiro?” ou mais direto como “você TEM que fazer uma dieta!”. Não tem mais essa de crescer, a gente come somente o que a gente precisa para se manter estável. Ninguém fala: “nossa, hoje vou me encher de comida para, no futuro, eu ser uma velinha muito saudável”. O jeito é mesmo fechar a boca, empurrar a gula pro lado e resistir a aquela saliva que vem na boca quando vemos um doce da Ofner da esquina.
                Bom, seja o humano uma criação divina ou obra de milhões de anos de seleção natural, há de ser um consenso que a natureza fez um belo trabalho.
                Mas me parece haver dentre os pertencentes à espécie humana algum tipo de síndrome, uma obsessão doentia que busca desenfreadamente contrariar a lógica forjada durante bilhões de anos. Um lampejo ideológico que nos leva a sentir aquele orgulho nacionalista sempre que ouvimos o Willian Borner dizer que o país cresceu 0,5% a mais que o esperado. “Ora, o Brasil esta ai! É um dos BRIC (países emergentes de destaque mundial), a base da economia mundial neste século. Finalmente o país do futuro vai conhecer seu amanhã, e poderemos viver felizes como a Europa ou a America do Norte”.
                Acontece que um dia, enquanto sofria de meu lampejo ideológico, acabei sem querer pensando “ótimo, o Brasil cresceu 7,5%. Quanto será que falta para chegarmos...”. E eu me senti atingido na cabeça por um piano. Eu não sabia completar a maldita frase. Com certeza deveria haver um lugar para chegar, caso contrário não estaríamos tão orgulhosos de nosso país ser um dos que mais crescem no mundo. Será que queríamos chegar à Europa, ou nos Estados Unidos? Se for o caso, aonde eles – os países desenvolvidos – querem chegar quando dão duro para crescer? Não me levem a mal, é claro que eu adoraria que o país crescesse e nós erradicarmos a miséria, mas será que depois que isso acontecer, a gente não vai querer crescer ainda mais?
                Eu só pude sorrir novamente quando me lembrei que, se eu comer mais do que devo, vou engordar. E toda vez que o homem desafia as leis da natureza, ele descobre que não da certo. Agora, toda vez que ouço a palavra capitalismo, minha fértil imaginação cria a imagem de um homem de 50 anos muito gordo, com aquela pele que fica soltando óleo e com tanta gordura que ela até fica se arrastando pelo chão. E eu durmo com a certeza de que, um dia, não caberá mais comida no estomago do homem, e ele virá a explodir ou ter um infarto fulminante. E com a esperança de que, quando isto acontecer, nós possamos nos espelhar na natureza e criar um sistema que cresça visando algum objetivo, preferencialmente social. E meu neto ligará a TV para ouvir o neto do Willian Borner dizer que o país havia diminuído, e estava quase do tamanha ideal.
                Meu Deus, será que eu pirei?!

Por: Vitor Quintanilha Barbosa

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Eu, você e a batata.

Quando Deus resolveu criar o mundo, foi desenhando coisa por coisa. Quando ele desenhou as ondas do mar, ele estava namorando. Quando desenhou a diversidade de pássaros, ele estava sorrindo. Quando desenhou as montanhas, ele estava meio bravo.
Mas quando Deus desenhou a batata... Ele só podia estar fumado!
Vivo para entender – e sei que nunca vou conseguir – como pode uma raiz tão estranha e tão imperfeita em sua aparência ter um gosto tão bom. Seja frita, assada, cozida, amassada ou transformada em nhoque – pouco importa o formato – ela continua saborosa e irresistível, e por isto mesmo esta presente em quase todas as refeições.
Quando você esta com pressa, nada melhor que um fast food com batata frita e um hambúrguer; se quer cozinhar algo simples e pratico, um purê e uma carne moída são os grandes ganhadores; se quer imitar os italianos e pedir uma boa massa, peça nhoque que você não se arrepende; se quer acompanhar um frango assado, a batata novamente se mostra perfeita; se esta na praia curtindo o mar, uma porçãozinha de fritas cai bem; se você esta viajando, não esqueça seu pacote de ruffles; Se for comer strogonoff então, não da para esquecer a batata palha.
Eu poderia continuar durante horas citando as inúmeras formas e utilidades que a batata tem o poder de assumir. E é por isto que eu acho que a humanidade deveria ter mais respeito e mostrar mais homenagens a seu poder adaptativo. Minha educação de ensino médio quase completo em uma escola particular sequer me ensinou como é a planta da batata! Quando me dei conta disto, corri no Google para descobrir. Como posso eu saber que E=mc² e não conseguir reconhecer a planta que esconde este presente de Deus em baixo da terra?!
Afinal de contas, querendo ou não, todos nós teremos que ser meio batata na vida. É um tal de assumir papeis: Filho, namorado, irmão, amigo que gosta de futebol, amigo que gosta de vôlei, estudante, consumidor, ignorante; frito, cozido, assado, amassado. A sociedade precisou avançar milhares de anos para transformar cada indivíduo naquilo que estava la o tempo todo: a batata.
Salvem as batatas!

Por: Vitor Quintanilha Barbosa.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A sociedade tapa-olho - Sobre a repressão do dia 17/02

A repressão do dia 17/02 aos manifestantes que faziam uma manifestação contra o aumento da passagem de ônibus e metro à frente da prefeitura em São Paulo teve uma repercussão na mídia maior que todas as outras 6 passeatas juntas. Chovem críticas a policia militar e a tropa de choque, que quebraram o nariz de um jovem e abusaram de spray de pimenta, bombas de efeito moral, gás lacrimogênio, cacetete e balas de borracha para dispersar a multidão. Na internet, a ferramenta de comunicação mais livre que conhecemos, os blogs de esquerda se deliciaram falando mal da ação policial.
Mas foi triste para mim perceber que todas as discussões virtuais sobre este tópico acabaram em argumentos do tal conhecimento popular, o senso-comum. Quanto a ação policial, “foi completamente exagerada”; “um absurdo, quebraram o nariz do moleque”; “é a força repressora desse regime ditatorial que se diz democrático”. E essas são as frases menos exageradas, que a esquerda vem repetindo a anos. Por outro lado, foi uma “manifestação de vagabundos, que não tem mais o que fazer”; “coisa de estudante revolucionário que não sabe nada”; ou “desculpa pra criar bagunça a toa”, como diriam as vozes da direita. O “posicionismo” presente nas discussões se intensifica tanto que impede qualquer discussão, resultando em uma briga de argumentos pré-elaborados contra outros iguais, e cada cabeça com a certeza que escolheu a maneira certa de interpretar os fatos. Perde-se a possibilidade de discussões realmente necessárias, como o transporte publico; o papel da policia; a interação entre política e sociedade; os movimento sociais que ganham força. Tudo isto vira uma queda de braço, um conflito, uma guerra. Mesmo que alguém saia ganhador da discussão, os dois lados só tem a perder.
Eu estava lá no dia 17, e percebi o que aconteceu. Claro que minha visão distorcerá fatos, e não se trata da verdade absoluta. Mas o que eu vi foram 600 manifestantes protestando, quando 50 deles resolveram pular a grade de contenção em frente a prefeitura. A polícia, quando percebeu que a ação era em massa, respondeu como se deve: dispersou a manifestação antes que ela representasse algum risco material a sociedade. Não da pra ficar quieto olhando 600 pessoas invadirem uma área restrita da prefeitura, pois todos sabemos como as massas – por mais justas que sejam suas causas – são perigosas.
Claro que houve exageros por parte dos policias na repressão. Mas eu – que provavelmente faço parte de uma tendência esquerdista duma parte da elite paulistana – não consigo culpar a polícia.
Dos manifestantes, 75% correram assim que começou a confusão. Os 25% que se viram no direito de enfrentar a policia (não sei bem com que armas) levaram balas de borracha e spray de pimenta na cara. Foi mal, camarada, mas encara assim a toa da nisso!
Mas bonito foi ver a imprensa sendo usada como massa de manobra pelo Movimento Passe Livre, que organizou tudo. Depois de reunir 4mil pessoas numa passeata, o movimento estava diminuindo; e, sem a vontade de deixar uma reinvidicação justa morrer, armou um protesto para dar confusão, já que a única coisa que sai na mídia é violência gratuita. Deu certo: Jornal nacional, Folha, Estadão, Revistas, Datena, tudo noticiou o ocorrido e enfureceu a esquerda caolha paulistana, que agora comparecerá em massa ao próximo protesto que ganhara mais força política e, quem sabe, terá ao menos parte da revindicação atendida. Eu – provavelmente fazendo parte da tendência de esquerda de parte da elite paulistana – não consigo culpar o Movimento.
O que entristece é ver que esse tipo de movimento social, que vem ganhando força a passos de tartaruga, não consegue problematizar para produzir conhecimento e discussões socialmente relevantes. Trata-se de uma sociedade caolha, congelada em argumentos, que esqueceu que para enxergar tudo em 3D, são necessários os dois olhos em movimento.

Por: Vitor Quintanilha Barbosa (Dreamer).

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O escape social

O Egito, políticas a parte, deu um exemplo ao mundo – fez uma revolução quase pacífica que acabou com 30 anos de ditadura em 18 dias de protesto. Na Itália, os escândalos de Berluscone já levou milhares de pessoas às ruas. A população do Irã, seguindo a onda de protestos do oriente médio, enfrenta balas de borracha e bombas de efeito moral para dizer não a um governo duvidoso. E o Brasil – temos de nos orgulhar – expulsou o Roberto Carlos do Corinthians.
É preciso entender que o futebol, no Brasil, deixou de ser apenas um esporte; um entretenimento. Ele é mais importante que a política. Ele é o ponto máximo da alienação e o ponto de escape da raiva social. Ele que reúne dezenas de milhares de pessoas de sábado, domingos e – pasmem – de quarta feira a noite. Ele que define se você vai ser o zuado ou o zuador durante a semana, e é um dos únicos motivos bons o bastante para fazer o povo brasileiro protestar por alguma coisa.
Não é a toa que torcida organizada já é sinônimo de brigas ou de bagunça. Todos gostam de se sentir parte de um grupo, de ter um motivo para comemorar ou cobrar e de se encontrar com milhares outras pessoas por um mesmo motivo. É la que a raiva dos jovens é descontada – tanta energia gasta sem nenhuma conseqüência que realmente importe. A revolta do Corinthians pela eliminação da Libertadores; a revolta dos coritibanos a 2 anos atrás, entrando em campo e agredindo policiais; as inúmeras brigas com vitimas entre torcidas organizadas. Todas só ilustram como o futebol é uma poderosíssima arma de manipulação: dá a uma parte da sociedade o sentimento de revolta e de grupo de que ela carece, sem que haja uma única conseqüência para o Estado.
Mas a culpa é da história. Ela que manteve o povo excluído da política desde o começo, com os portugueses. Ela que garantiu que a Elite agrária permanecesse no poder, sempre iludindo o resto do povo. Ela que atrasou em meio século a industrialização brasileira. Ela que, eficientemente, criou a ideologia do “povo pacífico”, que não vê a necessidade de confrontos. E ela que, para suprir as carências criadas por si própria, transformou o futebol no que ele é hoje. Tudo isto com o apoio incondicional da grande mídia.
Se é verdade que o povo se revoltou com a ditadura, a idéia parece ser que depois dela tudo o que vier é lucro.
E é assim que vivemos bebendo, “porque sem a cachaça ninguém segura esse rojão”, como diria Chico Buarque.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sino

Se um dia um terremoto destruir todos o prédios de Perdizes e um tsunami levar para longe todos os destroços, quando nos aproximarmos do fim do dia e o relógio marcar 17h55min, o sino da igreja São domingos vai badalar.
Já moro ao seu lado a 10 anos, se não mais, e admito que nunca vi este sino não bater (será que é possível ver algo não acontecer? Fica pra outra crônica). Quando era criança, eu ficava imaginando a pessoa que ia lá, todo dia, chegava no pé daquela torre por dentro da igreja e olhava para cima, tentando ver aquele sino lá no alto. Depois, segurava com as duas mãos uma corda grossa, mais velha que o próprio homem, e usava todo seu peso para fazer o sino badalar. Sempre as 17 horas e 55 minutos. Sua vida se resumia a isto, e ele dormia numa cama ao lado das cordas. (In)felizmente, eu cresci, e um belo dia enquanto ouvia o sino bater e imaginava o homem puxar as cordas (homem que, por alguma razão, eu tinha a certeza de se chamar Rogério), comentei sobre isto com minha mãe, que com uma única palavra destruiu meu sonho infantil: “é eletrônico”, disse ela.
Senti toda minha inocência infantil ir pelo cano, como se alguém tivesse decidido puxar a descarga. A partir deste dia, tudo o que eu imaginava eu pensava, em paralelo, se aquilo também podia ser eletrônico. “Será que não tem uma pessoa que fica no topo do elevador, apertando o botão de subir ou descer para ele parar no andar que a gente quer?” “Será que não tem ninguém dentro do carro fazendo a roda girar quando a gente pisa no pedal?”.
Talvez agora você esteja pensando que eu era uma criança um tanto afetada, e que há uma grande chance de minha mãe me deixado cair de cabeça quando eu era bebê. Bom, talvez você esteja certo. Mas a modernidade tem esta mania louca de fazer tudo por nós. A gente não lava a louça; põe na maquina; a gente não faz café, liga a maquina; a gente não abre o portão, a maquina abre; a gente não põe fogo, LIGA o fogo. DESDE QUANDO O FOGO É LIGÀVEL?
Mas ainda sim, o sino toca todo o dia, e meu cachorro uiva para ele todo o dia. Será que meu cachorro é eletrônico?

Praia, Mulher Pelada e Zeca pagodinho

Não sei se é uma impressão própria, mas eu venho percebendo uma certa tendência seguida por todos os comerciais televisivos ou impressos em revistas e jornais: eles, cada vez menos, chamam a atenção.
Começa logo na primeira pagina do jornal. Quando você acorda, ainda meio zonzo de sono, e abre a porta para ver se tem alguma noticia mais interessante que mereça 5min de atraso para a escola, a primeira coisa que você faz é puxar aquela primeira pagina só de propaganda que cobre metade da capa do jornal e jogar pro lado. O fato é que aquela pagina só tem propaganda mesmo, e nosso cérebro primitivo foi logo adestrado, assim como um cachorro aprende a fazer xixi no lugar certo, a ignorar completamente o que esta escrito ali em troca de alguns segundos a mais no dia. Bom, o resto da capa do jornal você da uma rápida passada de olho lendo as manchetes, e com sorte acha alguma que valha a pena ler – abre direto na pagina que esta marcada e, com os olhos já treinados, acha a reportagem em frações de segundos. Depois que a lê, passa rapidamente para as capas dos cadernos em busca de algo mais que valha seu tempo. Provavelmente não acha, e então joga o jornal de lado e acaba de tomar seu café.
Percebe? Nenhuma propaganda passa por nossos olhos. E não adianta, no auge do desespero, as empresas pagarem uma nota preta para fazer publicidades de pagina inteira: elas são as mais inúteis, pois assim que começamos a virar a pagina e vemos que há um quadrado grande e colorido no lugar das esperadas notícias, viramos para a próxima folha rapidamente. Eu nunca, nem uma única vez, li o que estava escrito em uma destas propagandas imensas.
Saltamos, então, para uma mídia mais popular e com mais interação: a televisão. Bom, primeiramente vamos destacar as propagandas que já alcançaram o ponto máximo do ridículo e da falta de criatividade: Cerveja, carro e Casas Bahia. Cá entre nós, por mais seja presente no Brasil o problema social da falta de instrução, é muita pretensão dos publicitários achar que colocar mulher pelada/Zeca Pagodinho/Praia e associar aquilo com cerveja ainda leva a algum lugar. Há algum tempo o cérebro brasileiro foi adestrado para ignorar esse tipo de propaganda. E os “feirões de carro” então? Aquele narrador falando rápido, fazendo uma ou outra piadinha, e sendo cortado por ofertas com o carro rodando e o preço do lado. Aí no fim, ele te diz o endereço e afirma que você não pode perder! Ah, va catar coquinho, eu posso perder sim e, da mesma maneira que cerveja, não saberia dizer qual marca fez a propaganda.
Vou pular os comentários sobre as casas Bahia pois temo apelar para palavras de baixo calão.
O fato é que as propagandas brasileiras parecem tender, hoje em dia, exatamente para o contrário do que elas foram criadas: são feitas para serem ignoradas pelos potencias clientes. Faça o teste você: tente se lembrar de mais de 1 propaganda que você viu no intervalo do Jornal Nacional de hoje, ou daquela revista que você acabou de ler. Simplesmente não dá! Nossas mentes foram adestradas de tal maneira que, quando vemos esse tipo ultrapassado de publicidade, o cérebro se recusa a completar a sinapse. Não é que a informação não vire memória – ela simplesmente não é processada.
Mas, pensando bem... Sorte a nossa. Agora, além de uma “Cidade Limpa”, temos TV e Jornal com “Sujeira Transparente”.