Acabou de acontecer algo muito engraçado comigo, aqui do lado de casa, no banco Itaú.
Admito que não vou no banco NUNCA. Eu ia dizer que ia raramente, mas seria mentira, já que a internet resolve todos os problemas de minha mãe e eu, um garoto de 17 anos, ainda não tenho tantas demandas com este tipo de serviço. Mas eis que, por acaso, minha mãe recebe um terreno de uma cidade chamado Padrinho. Já ouviu falar? Pois bem: nem eu. Como esperar que uma cidade tão desconhecida e, provavelmente, tão minúscula, tenha um serviço online de pagamente de IPTU?
Na ausência de tempo de minha mãe somada com a ausência temporária de meu irmão, acabei eu – estudante desocupado – responsável por pagar o tal carne do IPTU.
Então la fui eu, as 15h30 de uma terça-feira, no banco aqui perto de casa pagar R$33,30. A primeira cena é a clássica: você entre na porta giratória, e ela n roda. Você põe suas coisas naquele lugarzinho, e olha pro guardinha com cara de duvida. Ele manda você voltar e tentar de novo e, na terceira vez, você consegue entrar.
Depois de passado o primeiro – e imaginei que seria o grande – desafio, andei até o fundo da agência, aonde se localizam os 5 caixas. Mas 2 dos 5 caixas são só enfeite – eles nunca abriram. Dos outros 3, um estava anormalmente vazio. E dos 2 que funcionavam, um era preferencial. Uma senhora, que chegou depois de mim e ficou ao meu lado, puxando uma conversa, fez um comentário muito inteligente sobre a situação que nós nos encontrávamos (vale dizer que a senhora era extremamente simpática e calma):
“Perdizes tem muita velinha!” – ela me falou.
Imaginei na hora que era uma senhora experiente em filas de banco (e imaginei, também, que ela estava louca para que passassem mais um ou dois anos e pudesse ela também usufruir da fila preferencial.). Preocupei-me, pois atrasar não estava na agenda; além disso, haviam 12 pessoas em minha frente para passarem em um único caixa, já que o outro se preocupava com as velinhas.
Empacou. Sabe aquele transito que o semáforo abre e fecha, sem que nenhum carro passe? Tipo como acontece nas ruas estreitas da Vila Madalena, em horário de pico, em dia de tempestade, que são usadas de alternativa para as grandes avenidas? Era isso. O paulistano, em seu vasto repertório cultural, sabe exatamente o que eu quero dizer: Simplesmente parou. Demorou uns 10 minutos até que o senhor que estava utilizando o único caixa vago para nós, pessoas normais, saísse dali. Imaginei que ele estaria pagando todas as contas da vida dele atrasadas e ainda alguma futuras – que nem haviam sido cobradas. Era a única explicação para tanto tempo ocupando uma mesma caixa (era mulher).
Pois bem, o senhor acabou de ser atendido e a fila andou. Agora, só haviam 11 pessoas na minha frente! URRUL! (sarcasmo)
Passa-se 20minutos de espera, com a fila diminuindo na minha frente e aumentando atrás.
Chego na ponta. Eu era o próximo: Nada me impediria de utilizar o próximo caixa vago. Até porque o caixa preferencial estaria vago rápido, e não havia senhoras na fila. Quero dizer, não havia até o ultimo minuto, quando uma senhora de descendência asiática entrou e foi no caixa preferencial. Sabe quando seu time esta ganhando, você esta la todo feliz, e, quando já desencanou de ver o jogo e esta comemorando, percebe que o outro time fez um gol? Pois é, me senti assim. O paulistano sabe como me sinto.
Tudo bem: eu ainda era o próximo. Era só aquela senhora acabar de utilizar o caixa normal que eu poderia...
Opa, opa, opa. Pode parar. O que aquela mulher esta fazendo, entrando pela saída, e esperando ao lado do caixa?! Deve ser uma outra atendente, que veio ajudar, mas antes passou pra dizer um “oi” para a amiga. Mas ela esta demorando e... Opa! Como assim a mulher vai atender ela? E a fila?!?! E..
-Essa mulher estava na fila? – pergunta a moça ao meu lado
-Eu não há vi – respondo, e me dirigindo para a caixa que à estava atendendo, pergunto – moça, e a fila?
A simpática mulher ao meu lado aumenta:” é, ela já estava na fila?”
Vendo que não poderia ignorar, a caixa se defende. Fala que sim, ela já estava na fila, e voltou porque havia esquecido algo. O assunto morre – os nervos, inversamente proporcional, só aumentam conforme a fura-fila demora anos para ser atendida.
Pronto. Finalmente, era minha vez. Mas eu não ia deixar barato. Cheguei perto do caixa e, meio nervoso, perguntei a atendente:
-Agora é a vez dos clientes normais?
Bom, acho que ela até tentou responder. Mas quando falou “todos são normais”, a fila inteira discordou.
Eu juro que ia deixar tudo quieto. Ia até agradecer a atendente na saída e desejar boa tarde. Só queria fazer aquele pequeno comentário para mostrar para a atendente que eu não sou tão idiota assim. Mas foi como se eu tivesse acendido uma fagulha numa xícara de pólvora! Ascendeu! E todo mundo começou a reclamar (e com razão), ameaçando chamar a gerente, e criou-se um enorme auê.
Você sabe o que são 13 pessoas – ou melhor – 13 brasileiros, clamando por seus direitos em um fila de banco? Quase chorei. Melhor do que quase chorar: eu sai do banco dando risada. Na saída, ainda tive tempo de ver um outro funcionário de camisa social olhar para o segurança, perguntando: “o que diabos esta acontecendo?!”. Isto porque estava se formando uma gritaria ao lado dos caixas. Tudo porque eu fiz aquele inocente comentário!
Eu vi uma de minhas teorias melhor elaboradas indo por água a baixa. De repente percebi que o brasileiro não é tão acomodado assim. Porque eu achava que houvesse a cultura do conformismo com tudo, especialmente com a política escrota que temos nesse país. Mas lá, bastou alguém tomar a frente, um comentário inocente, 5 palavras ritmadas, um pequeno aglomerado de sons, e todo mundo se revoltou. Até o outro caixa teve que intervir verbalmente para defender a amiga.
Não sei o fim da história: vim para casa escrever a crônica. Talvez amanhã apareça no jornal: Comentário inocente acaba em briga em banco de perdizes.
Mas o que importa, é perceber que, muitas vezes, assim como foi no oriente médio, basta que alguém tome a frente. Basta uma fagulha, e ela ascenderá o barril. Esta é minha nova teoria (por mais que uma fagulha, eu outros contextos sociais, talvez tenha que ser uma brasa mais forte.).
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