quinta-feira, 14 de julho de 2011

Fim. Mas todo fim é um começo!

Não, não vou parar com o blog. Apenas anuncio mudanças!

Devido a problemas técnicos com o blogspot, mudei o endereço do blog para outro servidor, o wordpress.

Anotem o novo endereço, e terá um post la mais longuinho para ser lido.

apenassorriaeacene.wordpress.com

Abraços, Dreamer (ou simplesmente Vitor)

domingo, 26 de junho de 2011

"#protesto" e "Respeito Atropelado"

Depois de algum tempo em recesso, vou mudar um pouco as coisas. Saindo um pouco do estilo de texto comum que publico aqui, vou comentar duas manchetes interessantes que saíram em revistas nesse fim de semana.


                A primeira é a notícia da Carta Capital, #protesto, que trás o subtítulo: “Convocados pela internet e sem a medição de partidos ou sindicatos, manifestações explodem de Norte a Sul”.

                Pois bem, a revista trata do mesmo assunto que eu tratei aqui em outros dois textos, e sem dúvida começa agora a causar cada vez mais debates. E não faltam exemplos trazidos pela notícia: Revolta de Jirau, Greve dos Bombeiros, Marcha da liberdade, a revolta em Vitória, e por ai vai. E em todos estes movimentos faltam aquilo que até agora parecia essencial para fazer política: sindicatos ou partidos.
                Esta falta de líderes trás alguns receios. Até que ponto é realmente possível organizar um grupo, exigir reivindicações e ter importância política sem uma hierarquia, sem representantes? O medo é sempre a barbárie. O medo é que um grupo, uma massa – sem a direção clara a seguir – cultive mais os sentimentos irracionais do que os racionais. A Carta Capital trouxe, por exemplo, uma entrevista aonde o entrevistado afirmou que a revolta em Jirau saiu do controle, pois nem os trabalhadores sabiam ao certo o que eles queriam.
                Talvez seja errado sair do pressuposto de que qualquer grupo sem liderança resulte na barbárie. Talvez seja muito errado. Mas é preciso alguma boa estrutura que tome o lugar do líder; do partido político; do sindicato. Não basta levar um bando de gente pra rua e sair gritando; não basta fazer uma revolta sem saber o que reivindicar. Não que este tenha sido o caso em Jirau (eu não estava lá pra saber), mas sem duvida é um caso muito passível de acontecer. O desafio, agora, é achar um sistema justo que de conta de suprir aquilo que a carência de uma liderança proporciona.
                Possível, certamente é. Ou pelo menos eu espero que seja. Mas é sem dúvida um desafio para estas manifestações, para este novo grupo de insatisfeitos importados diretamente do facebook e do twitter.
                Tomara mesmo que renasça nos adolescentes a perspectiva de mudança política. Tomara mesmo que as novas ferramentas on-line, tão difíceis de serem entendidas pela rapidez com que criam, transformam, e destroem, resultem em alguma mudança positiva. Mas isto ainda vai demorar algum tempo. Mas será o tempo “real” ou o tempo “digital”?
                Além disso, como diria meu professor de história (que nenhum adjetivo da conta de descrever): “Não há revolução sem teoria”. E eu diria mais: “Não há revolução sem teoria e tão pouco sem organização”.
               



A segunda notícia, PASMEM LEITORES, é da revista Veja São Paulo. Isso mesmo: eu estou trazendo uma matéria que saiu na tão odiada Veja, aquela que tem 2pgs de propaganda pra 1pg de notícia.

                Respeito Atropelado. Opiniões jornalísticas sobre o título e o modo de escrever aparte, trata-se de uma análise crítica da nova campanha da CET de educação no trânsito. Campanha esta que prega o respeito ao pedestre, principalmente no referente a faixa de SEGURANÇA. SE-GU-RAN-ÇA. “Estado, qualidade ou condição de seguro”. SE-GU-RO: “Livre de perigo; Livre de risco; Protegido; Acautelado; Garantido”. Todos os motoristas entenderam o que significa FAIXA DE SE-GU-RAN-ÇA?!
                Pois bem, agora podemos continuar:  a reportagem trás uma análise crítica desta nova campanha. E, na verdade, mete o pau neste nova campanha. E cara, apesar de se tratar da Veja, não é que a reportagem levante pontos muito interessantes?
                Até agora, tudo o que eu tinha ouvido sobre a nova campanha eu tinha achado legal. Respeito a faixa de pedestre, educação do motorista, mudança de hábito. São coisas boas. Mas a maneira é como fazer isto, e ao que parece, a prefeitura escolheu uma maneira incerta. A revista afirma, e faz sentido: a campanha da CET foca muitas vezes em cruzamentos com semáforo de pedestre. Acontece que o respeito a estes cruzamentos já existe! Não é comum algum carro passar no sinal vermelho (pelo menos, não durante o dia). Acontecer, acontece, mas não é o grande problema. O grande problema é a faixa de segurança que não é segura!
                Nestas faixas, a ação da CET foi colocar uma pessoa com uma cancela, que coordena a passagem de carros e pedestres, e vem escrito “respeite a vida”. Ou seja: a pessoa é um farol inteligente. Então, ao invés de respeitar as faixas sem farol, a CET colocou temporariamente um farol humano ali. Quando o “farol” sumir, o respeito some junto.
                Além disto, a campanha é tão falha que não propõe nem o cumprimento do código de transito, que afirma que desrespeito a faixa de pedestre é multa gravíssima, com 7 pontos na carteira. Não faz parte da campanha uma onda de fiscalização do respeito a faixa de pedestre, passível de punição para os infratores. Se a repressão financeira não é a única ferramenta para ensinar bons hábitos, é no mínimo importante. Querer que os motoristas adquiram este habito sem doer no bolso, desculpem-me quem discorda, é otimismo.
                As pessoas não tem noção que desrespeitar a faixa de pedestre é colocar em risco a vida de alguém. É pior que passar no sinal vermelho. Porque se dois carros se chocam, há toda uma proteção de metal feita para proteger o motorista. Mas se um carro bate numa pessoa, que proteção esta tem? Nenhuma. Então quem me explica o avanço no sinal vermelho ser passível de uma quantidade enorme de multas, e o desrespeito a faixa de pedestre – que coloca mais em risco a vida alheia – não render nem uma multa? É burrice. Burrice esta que a campanha não consegue resolver.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Áurea


                Recentemente, este blog passou de um simples espaço para tentar problematizar o cotidiano – através dos meus textos e dos comentários que as pessoas (não)fazem – e tornou-se também meu projeto de redação.
                Funciona assim: eu escrevo como já escrevia antes, por vontade e risco próprio, e, depois de publicar no blog, imprimo uma cópia e levo para minhas aulas de redação de quarta feira, aonde coloco-as em uma pequena pasta (de que cor será? Não me lembro) aonde formam um conjunto. Na semana seguinte, na mesma pasta, as folhas voltam corrigidas e com nota.
                Se eu fosse uma criança eu acharia até que a pasta é mágica. Basta deixar a folha ali, que, quando ninguém estiver vendo – tal com era o papai Noel antes desta mania de se vestir do velinho começou – a mágica acontece sem ninguém ver, e a redação está logo corrigida. Pois bem: criança não sou mais, e tenho plena possibilidade de usar minha super capacidade de pensamento cognitivo (adoro esta palavra, meu professor de história que usou outro dia) para concluir empiricamente que as folhas não se corrigem por mágica. Tão pouco existe um duende corretor, como aquelas que roubam nossas meias e tampinhas de caneta BIC. Trata-se de uma pessoa com a mesma capacidade de pensamento cognitivo que eu. E, se até o ano passado essa pessoa era o meu então conhecido professor de redação, este ano – por influencia do temido vestibular – tudo mudou. Agora, esta sequencia de textos que aqui escrevo terá o privilégio de ser lida, analisada e adaptada ao português gramaticalmente correto por uma corretora, de nome Áurea.
                Não é louco pensar nisto? Estou escrevendo para uma mulher, cuja o nome eu descobri por acaso recentemente, e ela irá ler e corrigir.
                Como será ela? Ela deve usar óculos. Não deve? Sei lá, sempre que me vem na cabeça a figura de alguém mais culto com a língua portuguesa está pessoa esta usando óculos. É um ícone: acho que eu mesmo, se fosse passar boa parte de minha vida lendo e corrigindo textos, usaria um óculos, ainda que de mentirinha, mas para criar o estilo. Mas, pensando bem, nós vivemos na era do politicamente correto, e talvez eu tenha cometido uma gafe acima. Será que qualquer dia desses, depois do texto ser lido pela Áurea, tocara minha campainha a Associação dos Usuários de Óculos (AUO) ou a Associação dos Corretores Sem Óculos (ACSO)? Ambas podem se enfurecer bastante com meus comentários preconceituosos a cerca da necessidade do uso do óculos como iconografia de alguém culto na língua portuguesa.
                Mas... deixemos isto de lado, antes de criar mais polêmica sobre o assunto. Voltemos a figura que, daqui a quatro dias (ou a 3 anos atrás, dependendo do lugar que você, leitor, ocupa no tempo) vai corrigir meu texto. Onde será que ela mora? Não deve ser muito longe: São Paulo é gigante, mais a São Paulo dos privilegiados tem uns 10 bairros no máximo. Cara, já pensou se ela é minha vizinha? Se é aquela moça chata do condomínio (que usa óculos), que eu sempre arranjo briga? Isto pode trazer conseqüências em minhas notas caso ela descubra o meu verdadeiro eu. Por segurança, melhor eu fazer as pazes com todas as moças do condomínio. Vai que é, né?
                Mas sabe o que é mais estranho? Mais metafísico? Mais pirado ainda? É pensar que ela vai estar corrigindo um texto que fala dela mesma – ou melhor – fala de uma imagem dela.
                Ok, talvez as pessoas não acompanhem meu entusiasmo com este fenômeno. Mas ainda assim é bem maluco pensar que um dos meus temas de redação seja a figura abstrata da mulher chamada Áurea que vai ter de corrigir uma redação sobre ela própria feita por um moleque que ela não conhece e que criou uma imagem preconceituosa (ou não) dós óculos que ela deve usar porque é culta em língua portuguesa e se quer teve criatividade para imaginar o resto de sua cara ou de seu corpo, atendo-se apenas aos óculos. Xii, será que ela vai entender o sentido deste parágrafo quase sem virgulas?
                Mas, se ela esta lendo isto, talvez fosse educado eu dizer oi... Certo?
                Então... Oi! Tudo bom? Você usa óculos?
                Cara, o que será que ela vai responder? Será que vai responder? Ou ira se prender a sua função de somente corrigir? Gostaria muito de saber se ela usa óculos.
                Queria poder colocar a resposta aqui, caso houvesse, ou anunciar a ausência de uma. Mas, como meu espaço no tempo não permite isso, fica para a próxima.
                Boa noite/tarde/dia Áurea! (que horas será que ela corrige? Eu ia chutar a noite, mas vai que amanha me aparece a Associação em Defesa aos Corretores Diurnos na porta do meu apartamento!...)

domingo, 29 de maio de 2011

Algo esta mudando, ou eu estou sonhando.

                Era 1992, e centenas de milhares de estudantes tomara a avenida paulista, com suas caras pintadas, com uma única exigência: Fora Collor!. E o Collor se foi.
                Vai fazer 20 anos desde que a ultima grande manifestação estudantil tomou forma em São Paulo. Desde então, houveram cada vez menos grande manifestações na paulista, e o movimento estudantil parecia entrar definitivamente em decadência. Eu vivo esta época, em que protesto e manifestação significa, para o paulistano, transito e maconheiros sem vergonha.
                Mas algo esta mudando. No começo deste ano, um grupo de estudantes tomou as ruas por 13 vezes. Centenas de milhares de estudantes? Longe disso: apenas 2mil por passeata, em média, chamando o povo para ir as ruas contra o aumento absurdo da tarifa de ônibus. Depois de 10 quintas feiras seguidas de manifestação, o movimento se apagou, sem sucesso.
                Ao mesmo tempo, no começo do ano, um movimento nacional ameaçou surgir contra o abusivo aumento salarial dos parlamentares, de quase 70%. A faísca se apagou depois de levar algumas poucas centenas de estudantes as ruas em 5 capitais diferentes do Brasil simultaneamente.
                No M’boi mirim, aonde a carência do transporte urbano desta cidade atinge um pico, já foram no mínimo 3 manifestações diferentes levando reivindicações à sub-prefeitura.
                Chegamos ao presente mês, maio, quando vimos uma mudança do local do metrô Higienópolis causar um churrasco de gente “diferenciada” no centro de um bairro de elite; e, quase em seguida, a violenta repressão a Marcha da Maconha (um absurdo ridículo) dar luz a Marcha da Liberdade, que ocorreu no último sábado, com algo entre 2mil e 5mil presentes.
                É impressão minha, ou parece que algo esta mudando?
                Estamos longe, MUITO longe de chegar aos 100mil estudantes de cara pintada que tomaram a Paulista. A verdade é que era uma outra época, com uma outra cultura, com uma outra mentalidade, com uma outra juventude – a juventude que, hoje, parece ter chegado a vida adulta e se esquecido de como se manifestar. Mas neste ano, os políticos, principalmente nosso ilustríssimo prefeito Kassab, devem ter coçado a cuca e começado a se perguntar: que diabos esta acontecendo?  Porque estas pessoas estão vindo encher meu saco?
                Sem dúvida, parte da culpa é da internet. Ou melhor, dando nome aos bois: boa parte da culpa é do facebook. Já tratei deste assunto aqui em outro texto, enquanto comentava a revolta Egípcia, e volto a repetir: esta ferramenta deixou incrivelmente fácil marcar uma manifestação. Panfletos que nada: basta criar um evento e convidar todos seus 1000 amigos, que vão chamar mais 100 amigos cada, e o efeito cascata esta feito.O estrago esta feito: nada vai cancelar este protesto. Este efeito é tão assustador que apavorou até mesmo o criador do churrascão de gente diferenciada, que ao ver o tamanho que a coisa tomou arreou o pé.
                As manifestações, que cada vez mais vem tomando a mídia e, consequentemente, atraindo mais gente, estão se tornando cada vez maiores e mais freqüentes.
                Elas continuam restritas a uma relativamente pequena parte desta elite mais intelectualizada, que forma a grande parte dos manifestantes (ou, como preferem chamar os conservadores, bando de maconheiros sem ter o que fazer). E é por isto que as reivindicações ainda levam pouca gente para as ruas. Mas os policias estão tendo cada vez mais trabalho em reprimir, digo, proteger as manifestações.
                É cara, os políticos que se cuidem. Porque quando a reivindicação for por alguma causa mai ampla – alguma carência maior que se estenda mais profundamente na sociedade – vai ser como ascender a ponta de um fio ligado a diversos barris de pólvora. Porque quando a massa estudantil perceber como é bom estar em um grupo, nas ruas, com uma revindicação justa nas mãos, vai ser difícil segurar.
                Será sonho meu? 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A hierarquia

Lily era ema cadela golden retriver. Vivia no bairro de Higienópolis, bairro chique da elite paulistana, muito embora ela mesma não soubesse disto – sabia ela apenas que aquele portão alto, com um cheiro muito peculiar que misturava ferro, um outro pigmento qualquer e, claro, o seu cheiro, era o lugar que os humanos chamavam de “casa”. Quando sentia o cheiro de algum outro cachorro, Lily sentia-se brava, e logo recuperava o espaço perdido.
                Sabia ela também que o cheiro de vários adolescentes e suas mochilas, que estudavam ao lado; daquela grande arvore que cheirava bem e, as vezes, derrubava uma fruta perto dela; dos porteiros que estavam sempre ali na entrada e abriam o portão para ela; todos aqueles cheiros formavam sua rua. Tinha ainda os cheiros que Lily não gostava, como o do bueiro (claro que Lily não fazia idéia que aquilo era um bueiro).
                Mas Lily era muito astuta. Ela conseguia se lembrar de todos os cachorros que moravam ali perto dela pelo cheiro. E sempre que percebia a aproximação de um deles, ela logo começava a balançar o rabo. Queria cheirar, brincar, conhecer, ver, latir, pular, perseguir e balançar seu rabo junto com o outro cão. Ela pulava freneticamente, impulsionando seu corpo para frente, mas era barrada por um fio que Lily odiava e que segurava seu peito. Era um fio que sua Dona prendia nela sempre que iam passear. Pouco sabia ela que aquele fio chamava coleira.
                Lily não sabia, nem poderia com sua percepção de cão, mas para os humanos sua Dona tinha classe social, etnia, e sobrenome conhecido. Dona Alda, como era conhecida – e Lily sabia disso vagamente, já que suas experiências haviam conectado o nome a pessoa – era um dama herdeira – muito endinheirada e vivendo de renda. De humanos, Lily também conhecia Antônio, que era o porteiro do prédio, João, que era o sobrinho de Alda e estudava ao lado, o Zé, que era um cara da padaria que fazia carinho nela, e alguns outros. De cachorro, Lily conhecia um com cheiro engraçado, outro com cheiro forte, um outro que era meio doce. Todos era do tamanho de Lily, e da mesma raça.
                Claro que ela não sabia da parte do sobrinho, da padaria, do porteiro. Ela conhecia apenas os cheiros.
                Mas, enquanto passeava, Lily passava por um outro ser. Ela sabia que não era um cachorro, não cheirava como um. Mas, mesmo com sua visão preto e branco, que transforma o mundo em borrões de cinza com contornos, Lily sabia que ele não era humano. Talvez algo de seu cheiro fosse semelhante – e isso por muito tempo a enganou – mas agora ela tinha certeza, pois nenhum humano era daquele jeito – ficava apenas deitado ou sentado na rua.
Seu cheiro era forte, e Lily desejava que ele fosse ao pet shop tomar um banho, como ela fazia, para depois ser escovada, e sair dali com uma fitinha presa na cabeça. As vezes, ela ganhava até uma massagem! Mas ela sabia que, se aquilo não era um cachorro, ele não poderia ir num pet shop. Apenas cachorros como Lily podiam fazer isto. Pet shop para aquele ser estava completamente fora de questão; fora de alcance.
Mas Lily desejava que ele tivesse uma Dona como a dela, que lhe desse colo, comida, um lugar quentinho para dormir, visitas ao pet shop, e biscoitos quando ela merecia. Porque será que ninguém queria aquilo? Lily não sabia. Mas também não importava: ela destinava 5seg de sua atenção para a figura ali no chão, para então continuar sua caminhada. No caminho, se chorasse bastante, talvez ainda conseguisse que sua dona a comprasse um pão de queijo quentinho da padaria. E como ela gostava de pão de queijo.
E Lily podia não saber que aquilo chamava pão de queijo, e que o lugar chamava padaria, e que o bairro chamava Higienópolis. Podia também não saber que aquela figura chamava-se mendigo. Não sabia, alias, que todas as figuras semelhantes levavam este mesmo nome. Mas Lily era muito astuta, e até ela – sem contar com a incrível capacidade de pensamento cognitivo dos humanos – percebia o óbvio: ela, enquanto cadela da Dona Alda, era muito mais importante e superior a aquele ser deitado no chão, ao qual ninguém dava comida e banho.
Lily foi dormir cheirosa e contente.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A hipocrisia refletida no espelho

Peço desculpas para aqueles que não estudam no Equipe, pois este é um texto que talvez não faça sentido sem o contexto do cotidiano da escola.  Obrigado.




Darwin foi um genio. Ele descobriu a palavra chave para desafiar a religião e a ciência da época e buscar uma explicação inesgotavelmente plausível para a evolução dos seres humanos: diversidade.
                A diversidade é uma coisa engraçada. Ela da conta de que, dentro de uma mesma espécie, possam haver diversas diferentes entre eles. Não é genial? Os seres são iguais mas... Ao mesmo tempo, são diferentes!
                Até desenvolvermos a capacidade do pensamento cognitivo, isto não era problema. A diversidade era fundamental para garantir a seleção natural e, assim, a continuidade da espécie.
                Mas nós chegamos ao ser humano que somos hoje. Pensamos, criamos, matematizamos. Nossas mentes evoluídas são capazes de coisas incríveis. Aí, a diversidade mudou de característica. A seleção natural, se ainda tem efeito sobre os seres humanos civilizados, não dita mais todas as regras como antigamente. A diversidade criou um novo problema: o preconceito, o segregacionismo.
                Mas nós somos seres incríveis. Depois de anos de servidão; escravidão; massacres étnicos e duas guerras mundiais, a humanidade (mesmo pelos motivos errados, e mesmo que não como um todo – bem longe disto) começou a falar uma nova palavra: respeito. Foi uma evolução incrível: descobrimos que, no fundo, a ciência afirma que somos todos iguais e que talvez seja possível vivermos em sociedade juntos. Não precisamos nos amar, apenas respeitar.
                Essa é a palavra chave. Respeito.
                Há diversidade em todo lugar. E não é diversidade física, mas principalmente diversidades ideológicas; diferentes maneiras de pensar e agir. A capacidade de pensamento cognitivo trás consigo este problema: nem todos pensam igual. Problema? Na verdade, uma benção.
                Mas, cada vez mais, o colégio equipe me surpreende. Surpreende porque, quando minha classe foi viajar para Cubatão, estávamos falando sobre conceitos de Agnes Heller, uma filosofa que discutia muito sobre o cotidiano. E, lembro-me muito bem, quando eu estava em uma das grandes plenárias em que discutíamos estas questões, relacionadas com toda a desumanização e a falta de respeito que havíamos visto em Cubatão, eu olhei para trás e fiquei assustadoramente emocionado.
                Porque não foi o discurso dos trabalhadores contaminados que me emocionou. Tão pouco os discursos sindicalistas de luta de classe. Tão pouco Agnes Heller. O que me emocionou foi olhar para trás e olhar aquele bando de pessoas, cerca de 70, todas concentradas e reunidas ali em um único objetivo; discutir tudo isto. Refletir, pensar, discutir. Tomar consciência de sua própria alienação. Foi um daqueles momentos que, depois de ter certeza de que o mundo é uma bosta, você percebe que ali do seu lado estão 60 mentes em formação que pararam e se concentraram para discutir estas questões. E você pensa que, enquanto estes momentos existirem, talvez o mundo ainda possa ser um lugar melhor. E lá, tenho certeza, todos entendiam muito bem o que é respeito.
                Passado o momento, a volta para São Paulo trousse de volta o cotidiano. E o que fazemos com toda aquela reflexão, discussão, percepção que havíamos feito e construído? Guardamos para a próximo momento de discussão. Ali, no cotidiano, na escola, aquilo tudo vira lixo. Lixo inútil, sem sentido.
                Nós, 3º anistas, inclusive eu, temos SÉRIOS problemas de respeito. Não conseguimos respeitar os professores, que se esforçam para dar aula e, algumas vezes, não conseguem. Não conseguimos respeitar o trabalhador, que depois de toda a aula, é obrigado a limpar as carteiras que sujamos, o lixo que produzimos, e ainda limpar desenho de maconha do banheiro e da parede. Não conseguimos respeitar a escola, pois a maioria das situações propostas por ela são má vistas logo de cara. Não conseguimos respeitar todo o colégio, quando depreciamos o espaço público da escola com pixações e todo outro tipo de depreciamento. Não conseguimos respeitar o colega ao lado, quando fazemos barulho nas aulas, quando trocamos ofensas idiotas, quando fazemos piada de situações inapropriadas; quando não damos ouvido a alguém, quando queremos apenas procurar culpados sem sequer olhar no espelho e se desculpar. Não conseguimos respeitar todos os alunos quando furamos a fila da cantina. Não conseguimos respeitar as outras séries quando jogamos interclasses e entramos pra quebrar. Não conseguimos respeitar o segundo ano por algum tempo, com todo o rolo da festa. Em nosso cotidiano, o desrespeito parece assustadoramente normal, e esta palavra já foi invocada no mínimo por três professores..
                Isso é regresso. É involução. Não adianta ser consciente somente nas viagens de campo e aulas de filosofia. Tenho medo de usar esta palavra, mas para mim nós vivemos o cúmulo da hipocrisia.
                Outro dia, quando me recusei a ajudar alguém a furar a fila da cantina, fui chamado de moralista.
                Chamem-me do que quiser. Mas insisto: as relações construídas em nossa classe cheiram a hipocrisia, alienação, e em seu caráter mais puro, idiotice e egocentrismo.
                Respeitar é preciso.

Desabafei.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cadê o chão, a parede, as pilastras?

                “Tudo o que é solido se esfuma no ar”. Anos depois que esta frase foi escrita e publicada dentro do manifesto comunista, o meio acadêmico e intelectual começou a perceber o quanto ela significava. É a frase que caracteriza a modernidade, a nova sociedade que nasce pós-revoluções e pós segunda guerra.
                Todas as regras que moviam a sociedade, toda a base na qual as regras estavam pautadas, assim como os pilares que sustentavam estas bases mudam e se modificam. Surgem novas maneiras de alienação social, surge uma nova forma de produção, surge um capitalismo expansionista que conquista o mundo com a facilidade que um pastor alemão se livra de um pincher.
                Não é preciso ir longe para vermos isto tudo. Basta olhar para a sociedade brasileira. Basta olhar para sua casa, ou a casa dos seus amigos.
                O senso do IBGE revelou um dado brasileiro que caracteriza esta fase de transição que vivemos – e que é característica da modernidade –, e que dela traçaremos um caminho. O fato é que o Brasil, em se tratando de matrimônios, bateu 2 recordes opostos: ocorreu tanto o recorde de casamentos quanto o recorde de divórcios. Nunca antes tantas pessoas se casaram; nunca antes tantas pessoas se separaram.
                Como pode dados opostos subirem juntos? Não seriam eles inversamente proporcionais? Alguns podem alegar que é meio obvio: se há mais casamentos, há mais divórcios, pois mais gente esta casada. Mas se pegarmos o numero de divórcios por 1000 casados hoje, ele será muito maior do que antigamente.
                E nem precisava de IBGE para saber disso. Pegue um adolescente de classe média de hoje em dia. 50% de chance dele ter pais separados (pelo menos essa é a estatística de minha classe).
                Afinal de contas, o que representa o casamento? O que representa a família? Historicamente, aceita-se o casamento como um pacto social que misturava as famílias criando assim diversidade e alianças, pactos. Isto se mostra, por exemplo, nos casamentos de príncipes e princesas entre os diferentes reinos, na época medieval, que era uma maneira de aumentar o poderio de uma família ao misturar duas famílias reais. Posteriormente, o casamento tomou o lugar religioso: é o sagrado matrimônio do catolicismo, que constitui a base da sociedade: a família.
                Mas, de repente, chega a modernidade. Tudo o que é solido se esfuma no ar. A religião, de repente, começa a perder espaço para a ciência, o consumo, entre outras formas de alienação. Os ideais, princípios, as morais religiosas começam a perder força. Ainda presentes na sociedade, elas têm suas maiores bases em gerações mais velhas, e segue a tendência de diminuir cada vez mais. O discurso religioso perde força; as aulas de catolicismo começam a esvaziar; os jovens cada vez mais preferem render-se a sociedade do espetáculo, que promete orgasmos a toda hora, do que aceitar o “velho e chato” discurso religioso. O conservadorismo da Igreja, talvez, ache dificuldades em acompanhar a história.
                Vivemos o início do vácuo, ou talvez o inicio de sua intensificação. O que tomará o lugar da Igreja? Se o consumo e o espetáculo oferecem soluções para muitos problemas, eles não podem tomar ocupar todo o vacuo: faltam neles princípios, morais, objetivos. Falta algo que de significado a vida e que de rumo a nossas ações. Por mais que todos se rendam ao imperativo do gozo – consuma, goze, consuma mais, goze mais, consuma consuma consuma consuma cosumaaaaaaaa – os recordes em venda de antidepressivos e a grande valorização e demanda por psicólogos mostra que não adianta só consumir. Em uma sociedade contraditória no mendigo de cada esquina, falta algo que signifique o consumo e a vida.
                É desse vácuo que se origina a contradição dos números de casamentos e divórcios. As pessoas ainda se casam: acreditam no amor, acreditam na família, e tem ainda algum resquício da moral da Igreja. Mas o casamento é a certeza da entrada na vida adulta – em uma sociedade que privilegia o adolescente e a juventude como ícones. O negócio é ser jovem, livre, cair na balada, se alienar com música, ecstasy, maconha, jogos, e tudo o mais que nos distrair deste mundo e nos fizer gozar. E, ao ter este imperativo repetido inúmeras vezes, as bases do casamento se rompem – não existem mais as bases que o sustentavam – elas se esfumaçaram, desapareceram no ar.
                Você tem visto TV ultimamente? Percebe o numero de propagandas que mostram a traição dentro do casamento como algo natural, e pior, engraçado? É o cara que liga pra mulher e sem querer fala que vai na balada; é o marido que chega em casa e não vê os 10 amantes da mulher fugindo. Tudo isto já está aceito no meio social: esperta é a mulher que da pra 10 caras ao mesmo tempo, e idiota é o marido que segue o casamento sem trair. Esperto é o cara que cai na balada quando a mulher não tá. E olha que engraçado, haha, sem querer ele falou pra ela no telefone! >.<
                Ok, fui pretensioso e egocêntrico durante todo o texto. Adimito isto. Mas existe, nesta construção que fiz acima, discussões e teorias interessantes, que merecem ser percebidas, discutidas e pensadas por cada um, e não apenas pelos filósofos que falam com palavras complicadas nos livros acadêmicos.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

De volta a São Paulo

                Você já, algum dia, voltou para sua casa – aquela mesma casa que você viveu os mais recentes anos de sua vida – e sentiu que algo estava fora do lugar? Aí você olha para os móveis, e percebe que eles estão todos onde deveriam estar. E o mesmo acontece com os quadros, os eletrodomésticos, as plantas, as janelas, as cortinas, os livros, os pratos, os copos e os talheres. Tudo esta exatamente onde sempre esteve e onde deveria estar – ao mesmo tempo, você tem certeza que algo esta fora do lugar. E te da uma certa angustia de que você nunca vai descobrir o que está errado.
                Bom, claro que não estou falando de minha casa. É apenas uma metáfora. Falo da vida.
                Sinceramente, nunca foi minha vontade fazer deste blog (que recentemente virou um projeto de redação, valendo nota e tudo) algum tipo de diário adolescente, aonde eu contaria todas as minhas crises pessoais com textos poéticos e metafóricos, falando do amor, da solidão, da angustia de crescer e de melancolias próprias. Longe disto. Acho isto um clichê que fica, para quem lê, entediante. Não, a idéia deste blog é outra: expor textos com comentários, discussões, hipóteses, análises sobre os mais diversos assuntos cotidianos para que estes – que passam desapercebidos no dia-a-dia ou apenas repetidos pelos discursos prontos– ganhem um pouco de reflexão. Pois é no cotidiano que vive o homem, e nele que nós devemos concentrar nossos esforços para uma vida e – quem sabe – até um mundo melhor. Pensar o cotidiano é, de alguma forma, criticar a si mesmo e buscar mudar. Mas é muita prepotência querer isto de um blog que quase ninguém lê, certo? Concordo plenamente. Mas eu tinha que começar de algum lugar!
                Enfim, tudo isto para dizer que este texto vai sair um pouco desta temática. Não sei bem porque – afinal de contas, eu podia simplesmente não escrevê-lo, certo? Mas, a lá Diário Adolescente, vou apelar para algumas metáforas, como aquela que você leu la em cima, para contar uma crise que talvez não tenha o menor significado para alguém que não eu.
                Toda esta crise começou quando descobri que iria viajar com minha escola para um acampamento juvenil. Os protagonistas da viajem eram os alunos de 6º a 9º ano, mas eu e outros 7 alunos do terceiro ano iríamos com o papel de monitor – auxiliares dos professores e dos monitores do acampamento. É aquele tipo de coisa que, no começo, eu nem dei muita bola. Mas, conforme foi chegando perto da data comecei a ficar ansioso. E, depois de passar a Páscoa com uma virose bem chata, chegou a data. Ela chegou meio no susto assim – quando me dei conta, tinha que arrumar a mala para partir no dia seguinte, logo depois das aulas. E foi assim, no susto, que eu viajei.
                A ida foi nervosa – eu não conhecia praticamente nenhum garoto. Fiquei andando no corredor do ônibus, já que não havia lugar vago para eu sentar, olhando aqueles meninos e meninas contando piadas e rindo de bobeiras, enquanto conversava com a outra monitora, que também não conhecia quase ninguém. Então nos chegamos, uma viajem curta de umas duas horas.
                Não sei exatamente quando aconteceu o que. Só se que, na noite do primeiro dia, eu me pegava conversando com os meninos do meu chalé, buscando desenfreadamente seus nomes em minha memória que se esforçava para assimilar 50 rostos. E, quando acordei no dia seguinte, percebi que eles eram demais. Passei a adorar os momentos que ficávamos no chalé, conversávamos na mesa do almoço ou jogávamos algum dos vários jogos que foram propostos. Porque, apesar de ser monitor, eu participava de quase tudo como uma criança. Mergulhei rápido naquela rotina que duraria apenas 3 dias, e me empolguei com aquelas pessoas que há algum tempo dividiam a mesma sala comigo – mas que eu nunca tive a chance de conhecer. Não é louco que você não faça idéia da pessoa que, quinze minutos depois de você sair, entra na sua sala e começa a usar as mesmas carteiras? Conheci moleques simplesmente demais e me lembrei do meu tempo de criança.
                Mas então, tão de repente quanto começou, acabou. Porque 3 dias é muito quando você é criança ou pré adolescente, ou pelo menos é o que parece em minhas memórias. Mas, agora, 3 dias parecem nada. Passaram voando e, quando me dei conta, conversava com os meninos no ônibus de volta preso no transito da Teodoro Sampaio. E, quando me despedi rapidamente das crianças e entrei no carro indo para casa, fiquei triste.
                Não sei bem do que eu sinto falta. Talvez seja das pessoas mesmo, pois gostei muito delas. Ou talvez seja daquele clima de montanha, que não tem nada haver com São Paulo. Ou quem sabe a falta de responsabilidade que senti quando voltei a ser criança por 3 dias. Ou tudo isto. Mas, parado no sinal vermelho, senti um desespero. Não havia mais montanha, jogos, nem as crianças que surgiram e desapareceram de repente. Acho que eu tinha esquecido de como era São Paulo, e me lembrar me derrubou como um soco no estomago.
                Já voltei a 3 dias, e ainda sinto falta de algo. Minha vida esta exatamente como era antes deu viajar – ainda assim, parece que algo esta fora do lugar. Eu bem sei que, daqui a mais alguns dias, isto vai passar. Mas é um sentimento que te confunde e faz pensar. E pensar é perigoso. Mas, com certeza, as vezes é bom viajar e desligar completamente do seu cotidiano. O ruim é voltar.
                Prometo que, da próxima vez, largo mão do “diário adolescente” e escrevo um texto mais interessante.

sábado, 23 de abril de 2011

O miojo, a diarréia e o demônio.

                Chegou a Páscoa! 2 dias de feriado, para cada um aproveitar como bem entender. Tem coisa melhor?
                Bom, grande parte das pessoas recebeu suas 48h extras de descanso de maneiras semelhantes. Quem pode, catou o carro e saiu logo de São Paulo para aproveitar o frio de Campos do Jordão, o sol das praias do litoral ou o silêncio do interior. Quem ficou em São Paulo mesmo, se virou para achar alguma cultura ou algum lazer: cinema, shopping, parque, shows, e sei la o que mais. Mas páscoa não se resume só a feriado, claro! Temos também aqueles presentes dos deuses: os ovos de chocolate!
                O que ovos de chocolate tem haver com a ressurreição de Cristo? Bom, os otimistas diriam que o ovo representa a vida. Eu acho que o capitalismo explica, mas não vou discutir.
                Fato é que, além de descansar o dobro do normal, ainda ganhar chocolate dos amigos é bom. É MUITO bom. E é por isto que todos recebem tão bem a Páscoa.
                Sabem como eu recebi a Páscoa? Com 39,5º de febre, no hospital São Camilo, com a pressão baixa só de ver a enfermeira tentar colocar a droga da agulha no meu braço. E ela teve que tentar 3 veias diferentes, ou seja, 3 furos diferentes! Eu bem que tentei descontrair, brincando com a moça de que ela estava me fazendo sofrer porque eu tinha dito que odiava o Corinthians, ou que ela só queria me fazer sofrer porque percebeu que eu odiava agulha, e até mesmo tentei puxar um assunto mais, sei la, científico, perguntando se os potinhos que recolhiam sangue eram mesmo a vácuo e se as plaquetas eram as responsáveis por coagular o sangue. Mas nada disso diminuiu minha agonia de ser furado e não poder fazer nada. (um enfermeiro até virou pra mim e disse “ah, mas a gente só fura porque precisa mesmo”. Ia perguntar se ele conhecia o conceito de “via oral”, mas achei que eu pareceria, além de rude, idiota).
                Enfim, tudo isto para o médico dizer que poderia ser umas 5 doenças diferentes, e todas elas tinham a mesma solução: não fazer absolutamente nada e esperar a febre passar. Ele ainda me passou uma receita para tylenol. Quem, no século XXI, com o “BOOM” das empresas farmacêuticas, ainda gasta árvore para mandar alguém tomar tylenol quando esta com febre?
                Voltei para a casa, conformado que teria de enfrentar a Páscoa não apenas com a febre, mas também com o mal estar, o enjôo e a diarréia que o maldito vírus trouxe de brinde. Lembra da história do descanso? Da viagem? Do chocolate? Agora substitua isto por febre, visitas constantes ao banheiro e um cardápio com 3 itens (frango ferventado sem tempero, arroz e batata cozida). Esta foi minha Páscoa.
                Enfim, no sábado a noite, o pior parecia ter passado. Na verdade, eu fiquei cerca de 6 horas sem ir ao banheiro, sensação que eu não havia tido o prazer de sentir a dias. A febre tinha desaparecido junto com o mal estar. E eu estava com fome, afinal de contas era hora do jantar. E sabem o que eu ia comer? Frango com arroz e batata cozida.
                Recusei-me. Eu merecia algo melhor. Era Páscoa, por Deus! Encarei o armário, e não tive dúvidas – catei dois miojos, e pus a água para ferver.
                Acontece que eu tenho um péssimo habito. Acreditem, horrível mesmo. Enquanto eu espero minha comida esquentar (ou, no caso, a água ferver), eu fico lendo as embalagens. E, desta vez, eu me deparei com duas coisas: a tabela nutricional e a data de validade.
                A primeira, me contava aquilo que ninguém quer saber. Um pacotinho de miojo tinha, por exemplo, 25% da gordura que eu precisaria no dia, assim como 40% dos carboidratos e 67% do sódio. Como eu ia comer 2 miojos, os valores iam saltar para, respectivamente, 50%, 80% e 134%. A segunda, me revelava um perigo: aquilo havia vencido no mês 2.
                Além disso, hoje é dia 23. E o número 23 me odeia!
                Na hora veio na minha cabeça a imagem da minha tia, me dizendo: “olhe la, quando você esta com intestino solto, você pode comer miojo, mas não pode por o molinho!”. Mas qual a graça do miojo sem o molinho? Então era melhor nem fazer mesmo. Ainda mais com uma informação nutricional entristecedora como aquela.
                Não me leve a mal – não sou anoréxico nem nada do gênero – mas desde que tive uma breve introdução a industria de comidas do nosso tempo (via documentário ou aulas de química), cheguei a conclusão que o auto-controle era necessário. Num mundo de ofertas como o nosso, a “junk-food” e a “fast-food” (incluindo ai comidas como lasanha congelada ou miojo, que você só esquenta) são realmente tentações do demônio a serem evitadas. E a tabela nutricional me lembrou disto tudo.
                Decidi que trocaria: os invés de colocar o miojo, símbolo do demo, colocaria um macarrão no mínimo mais confiável, como um “farfale”. Ele demoraria mais, teria menos gosto (não ia arriscar fazer molho com queijo) mas seria a opção mais correta. E, quando eu estava prestes a pegar o pacote, minha mão hesitou.
                “Não!” pensei. “Se não for agora, eu nunca mais vou me permitir comer um miojo. É Páscoa, pelos deuses! Eu passei 3 dias confinado em casa! Eu só comi frango, batata e arroz! É agora ou nunca: vou comer miojo vencido e ponto final.”
                Comi. E vim escrever a crônica. Mas antes, tive que ir ao banheiro. Não sei se aquele molhinho foi uma boa idéia afinal...

terça-feira, 19 de abril de 2011

A fila de pólvora

                Acabou de acontecer algo muito engraçado comigo, aqui do lado de casa, no banco Itaú.
                Admito que não vou no banco NUNCA. Eu ia dizer que ia raramente, mas seria mentira, já que a internet resolve todos os problemas de minha mãe e eu, um garoto de 17 anos, ainda não tenho tantas demandas com este tipo de serviço. Mas eis que, por acaso, minha mãe recebe um terreno de uma cidade chamado Padrinho. Já ouviu falar? Pois bem: nem eu. Como esperar que uma cidade tão desconhecida e, provavelmente, tão minúscula, tenha um serviço online de pagamente de IPTU?
                Na ausência de tempo de minha mãe somada com a ausência temporária de meu irmão, acabei eu – estudante desocupado – responsável por pagar o tal carne do IPTU.
                Então la fui eu, as 15h30 de uma terça-feira, no banco aqui perto de casa pagar R$33,30. A primeira cena é a clássica: você entre na porta giratória, e ela n roda. Você põe suas coisas naquele lugarzinho, e olha pro guardinha com cara de duvida. Ele manda você voltar e tentar de novo e, na terceira vez, você consegue entrar.
                Depois de passado o primeiro – e imaginei que seria o grande – desafio, andei até o fundo da agência, aonde se localizam os 5 caixas. Mas 2 dos 5 caixas são só enfeite – eles nunca abriram. Dos outros 3, um estava anormalmente vazio. E dos 2 que funcionavam, um era preferencial. Uma senhora, que chegou depois de mim e ficou ao meu lado, puxando uma conversa, fez um comentário muito inteligente sobre a situação que nós nos encontrávamos (vale dizer que a senhora era extremamente simpática e calma):
                “Perdizes tem muita velinha!” – ela me falou.
                Imaginei na hora que era uma senhora experiente em filas de banco (e imaginei, também, que ela estava louca para que passassem mais um ou dois anos e pudesse ela também usufruir da fila preferencial.). Preocupei-me, pois atrasar não estava na agenda; além disso, haviam 12 pessoas em minha frente para passarem em um único caixa, já que o outro se preocupava com as velinhas.
                Empacou. Sabe aquele transito que o semáforo abre e fecha, sem que nenhum carro passe? Tipo como acontece nas ruas estreitas da Vila Madalena, em horário de pico, em dia de tempestade, que são usadas de alternativa para as grandes avenidas? Era isso. O paulistano, em seu vasto repertório cultural, sabe exatamente o que eu quero dizer: Simplesmente parou. Demorou uns 10 minutos até que o senhor que estava utilizando o único caixa vago para nós, pessoas normais, saísse dali. Imaginei que ele estaria pagando todas as contas da vida dele atrasadas e ainda alguma futuras – que nem haviam sido cobradas. Era a única explicação para tanto tempo ocupando uma mesma caixa (era mulher).
                Pois bem, o senhor acabou de ser atendido e a fila andou. Agora, só haviam 11 pessoas na minha frente! URRUL! (sarcasmo)
                Passa-se 20minutos de espera, com a fila diminuindo na minha frente e aumentando atrás.
                Chego na ponta. Eu era o próximo: Nada me impediria de utilizar o próximo caixa vago. Até porque o caixa preferencial estaria vago rápido, e não havia senhoras na fila. Quero dizer, não havia até o ultimo minuto, quando uma senhora de descendência asiática entrou e foi no caixa preferencial. Sabe quando seu time esta ganhando, você esta la todo feliz, e, quando já desencanou de ver o jogo e esta comemorando, percebe que o outro time fez um gol? Pois é, me senti assim. O paulistano sabe como me sinto.
                Tudo bem: eu ainda era o próximo. Era só aquela senhora acabar de utilizar o caixa normal que eu poderia...
                Opa, opa, opa. Pode parar. O que aquela mulher esta fazendo, entrando pela saída, e esperando ao lado do caixa?! Deve ser uma outra atendente, que veio ajudar, mas antes passou pra dizer um “oi” para a amiga. Mas ela esta demorando e... Opa! Como assim a mulher vai atender ela? E a fila?!?! E..
                -Essa mulher estava na fila? – pergunta a moça ao meu lado
                -Eu não há vi – respondo, e me dirigindo para a caixa que à estava atendendo, pergunto – moça, e a fila?
A simpática mulher ao meu lado aumenta:” é, ela já estava na fila?”
                Vendo que não poderia ignorar, a caixa se defende. Fala que sim, ela já estava na fila, e voltou porque havia esquecido algo. O assunto morre – os nervos, inversamente proporcional, só aumentam conforme a fura-fila demora anos para ser atendida.
                Pronto. Finalmente, era minha vez. Mas eu não ia deixar barato. Cheguei perto do caixa e, meio nervoso, perguntei a atendente:
                -Agora é a vez dos clientes normais?
                Bom, acho que ela até tentou responder. Mas quando falou “todos são normais”, a fila inteira discordou.
                Eu juro que ia deixar tudo quieto. Ia até agradecer a atendente na saída e desejar boa tarde. Só queria fazer aquele pequeno comentário para mostrar para a atendente que eu não sou tão idiota assim. Mas foi como se eu tivesse acendido uma fagulha numa xícara de pólvora! Ascendeu! E todo mundo começou a reclamar (e com razão), ameaçando chamar a gerente, e criou-se um enorme auê.
                Você sabe o que são 13 pessoas – ou melhor – 13 brasileiros, clamando por seus direitos em um fila de banco? Quase chorei. Melhor do que quase chorar: eu sai do banco dando risada. Na saída, ainda tive tempo de ver um outro funcionário de camisa social olhar para o segurança, perguntando: “o que diabos esta acontecendo?!”. Isto porque estava se formando uma gritaria ao lado dos caixas. Tudo porque eu fiz aquele inocente comentário!
                Eu vi uma de minhas teorias melhor elaboradas indo por água a baixa. De repente percebi que o brasileiro não é tão acomodado assim. Porque eu achava que houvesse a cultura do conformismo com tudo, especialmente com a política escrota que temos nesse país. Mas lá, bastou alguém tomar a frente, um comentário inocente, 5 palavras ritmadas, um pequeno aglomerado de sons, e todo mundo se revoltou. Até o outro caixa teve que intervir verbalmente para defender a amiga.
                Não sei o fim da história: vim para casa escrever a crônica. Talvez amanhã apareça no jornal: Comentário inocente acaba em briga em banco de perdizes.
                Mas o que importa, é perceber que, muitas vezes, assim como foi no oriente médio, basta que alguém tome a frente. Basta uma fagulha, e ela ascenderá o barril. Esta é minha nova teoria (por mais que uma fagulha, eu outros contextos sociais, talvez tenha que ser uma brasa mais forte.).

domingo, 17 de abril de 2011

Qual seu sistema operacional?

                Não, não estou falando do seu computador. Quero saber o SEU sistema operacional! Isto mesmo, aquele que roda e mantém seu cérebro funcionando. Tenho quase certeza que é Windows. Aqui no Brasil, diria que 90% dos sistemas operacionais dos cérebros devem ser Windows.
                Quem nunca tentou ligar seu cérebro, de manhãzinha com o despertador, e percebeu que ele simplesmente não fazia o “boot”? Que não importasse o quanto você quisesse ou tentasse – ele se recusava a manter o funcionamento. Parece que quando seu Windows ia ligar, naquela primeira tela aonde tem o símbolo da Microsoft, logo aparecia uma mensagem de erro: “Não foi possível acessar o arquivo acordar.afj. Tente novamente mais tarde ou contate o suporte técnico.”, para logo em seguida sermos obrigados a voltar ao sono profundo até que o verificador de erros do Windows consiga concertar o erro e nós, finalmente, acordemos. É, este erro crítico do Windows, que parece acontecer mais quando o sistema fica muito tempo sem ser desligado, atrapalha muita gente diariamente impedindo que estas pessoas acordem na hora que deveriam.
                Mas vamos supor que você conseguiu ligar e fazer o boot. Entrou no seu perfil, e logo acessou sua tela inicial. Enquanto todos os programas iniciam, comendo todo o processador do cérebro e deixando os passos e pensamentos lentos e meio desorientados, você vai até a cozinha e come um café da manhã. Aí tudo parece bem: os programas já estão todos rodando, e o processador já esta dando conta das tarefas; você não esta atrasado para seu trabalho e acabou de ter a refeição mais importante do dia. Mas, de repente, quando você tenta acessar um arquivo específico da sua memória (também conhecida como disco rígido), o clássico som de erro do Windows aparece, e uma janela salta na tela: “Não foi possível abrir o arquivo “celular.doc”. O arquivo pode não ter sido salvo direito, e parece estar corrompido.”.
                Ai surge a grande questão: Aonde eu deixei meu celular?
                O cérebro ativa um programa de suporte do Windows que tenta acessar as informações do arquivo corrompido, ao mesmo tempo em que outro programa ativa a ferramenta de busca nos registros ocultos, na esperança que alguma outra memória mostre alguma pista do paradeiro de seu celular. Enquanto isto, o que resta da capacidade de processamento do cérebro – que agora mantém apenas os programas essenciais para se dedicar especificamente a este problema – manda o corpo procurar nos mais diversos lugares de sua casa: partindo do óbvio (como sua mochila) até o impossível (como a lata de lixo do banheiro).
                Uma hora, o problema será resolvido, e o dia continuará. Ao acessar o calendário do Windows, vemos que nossa próxima tarefa é a escola.
                O caminho até a escola é todo feito no automático, apenas com as funções básicas de nosso cérebro, de modo que o uso da memória RAM não ultrapassa os 10%. Chegando la, o potencial de contato social abre outros programas no nosso cérebro, como o msn (responsável por conversas e expressões faciais) e um outro programa básico, rodado em DOS, que define quais pensamentos deverão ser compartilhados e quais deverão ser mantidos no cérebro (este programa, infelizmente, é velho e tem inúmeras falhas diariamente). O sinal da escola inicia um novo programa, específico para a programação escolar, e que consome diferentes quantidades de processamento nos diferentes cérebros. As primeiras tarefas que esse programa cumpre são consultar o material necessário, pega-lo no armário, e dirigir-se a Sala de Aula, escolhendo uma carteira de acordo com critérios pré-estabelecidos. Logo em seguida, quando o professor é avistado, o cérebro tenta iniciar o modo “Aula” (assim como os temas no celular (silenciosos, reunião, avião, etc)). Acontece que, 50% das vezes, salta na tela a janela de erro: “O programa “Em Aula” parou de responder e precisa ser encerrado. O Windows esta procurando uma solução para o problema.”. Portanto, até que o Windows ache a solução, a aula acontece em sua frente sem que nada do conteúdo entre em você.
                Mas ai você percebe que tem algo diferente na aula. O professor acabou de pegar um calhamaço de folhas e distribui-las, um por aluno.
                Dispara o alarme do Windows. O uso do processador vai a 100%. A temperatura interna esquenta. Aparece uma janela, com letras vermelhas bem grandes: PROVA HOJE. E você percebe, mais uma vez, que seu alarme de provas foi mal programado e falhou.
                Você recebe sua prova e lê as questões. A partir daí, existem 3 possibilidades:
                               -Cai a internet, e você não consegue pesquisar nada
                               -Aparece na tela: “Arquivos incompletos. Impossível realizar a pesquisa.”
                               -Erro crítico. Reinicie o sistema e aguarde o verificador de discos do Windows.

O tempo azteca.

               Há quinhentos anos atrás, quando nossos queridos colonizadores europeus desembarcaram em nosso continente, uma das primeiras coisas que eles descobriram foi que eles não estavam sozinhos. Haviam seres humanos aqui, divididos em varias tribos e povos diferentes, que logo seriam exterminados nos grandes genocídios que a história já não mais tenta esconder. Um destes povos, que ficam aqui do lado do Brasil, na outra costa da America do Sul, eram os Aztecas. (na verdade, como bem lembrou nosso amigo anônimo ali em baixo, os aztecas são do méxico)
                Para ser bem sincero, não sei quase nada deles. Sei que foram uma civilização com muito ouro e construíam pirâmides – a parte disso, não saberia dizer se eles eram alienígenas ou humanos.
                Mas outro dia, durante uma aula sobre este estranho povo, descobri uma coisa extra. Descobri que eles eram gênios, videntes, e haviam descoberto um segredo que pendura até os dias de hoje. Eles acreditavam que o tempo era cíclico.
                Esta é uma chave fundamental para entender hoje, centenas de anos depois deste povo quase desaparecer, nossa gigantesca metrópole.
                Giramos em um ciclo sem fim, que vem se repetindo quase sem mudanças durante os últimos 50 anos de metrópole. Podemos facilmente aqui destacar alguns marcos básicos para entendermos a linha de raciocínio azteca, adaptada para nosso presente. Logo que o ano começa, qual a primeira coisa que acontece em São Paulo? Alagamento. Enchentes. Centenas de casas tendo que ser esvaziadas, o corpo de bombeiros tendo mais trabalho com água do que com fogo, as principais avenidas indo para debaixo d’água e ficando simplesmente intransitáveis. O caos se instala repetidas vezes e grande parte dos moradores rezam para que exista logo um carro anfíbio no mercado brasileiro. Logo em seguida, ou as vezes ao mesmo tempo, começam as promessas políticas. “O pscinão da Pompéia será construído logo”; “aumentaremos significativamente a vazão dos rios”. Claro que elas nunca são realizadas, caso contrario quebrariam o ciclo. Enquanto os políticos fazem promessas, as mulheres do tempo de todos os jornais anunciam que choveu muito mais do que o previsto para todo o mês (acho que nos últimos 10 janeiros choveu, em São Paulo, mais do que o esperado para o mês).
                Mas um pouco antes da chuva começar, outro marco pode ser percebido: sobre o preço das tarifas de transporte público. A primeira reação popular parece ser de indignação, mas logo as pessoas ficam tão sem tempo de ter que trabalhar e usar o transporte público, que logo caí no esquecimento.
                Que mais? Ah, depois de uns meses do ano novo, começa o Big Brother. E, por mais que você queira ficar o mais afastado possível daquela droga que a Globo tanto ama, você com certeza vai ter que ouvir algum comentário sobre os participantes. Na maioria das vezes, você vai ouvir comentários de pessoas que dizem não gostar do programa (mas que, impressionantemente, sabem tudo dele).
                Ahh, e claro, o carnaval. Como poderíamos esquecer? Os momentos em que a fantasia se torna mais importante que a realidade.
                E, quando não tivermos muitos marcos fixos de tempo, aparecerá na mídia algum escândalo do qual teremos que ficar ouvindo por semanas. Seja Isabela Nardoni, a tristeza de Realengo, ou escândalo do mensalão.
                E por ai vai.
                Os aztecas eram realmente geniais. Criaram uma filosofia sobre o tempo que resiste ao... tempo! E parece explicar cada aspecto da nossa agitada vida urbana – isso apesar da cultura asteca jamais ter imaginado nosso modo de vida atual. Agora talvez nós pudéssemos evoluir, e começar a ver o passado como aprendizado para o futuro. Mas ainda viai demorar até que apareça uma civilização ainda mais genial que os aztecas.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Eu realmente odeio a NET

                Estou la, vendo minha querida série House, e refletindo comigo mesmo sobre os interessantes temas éticos que a série propõe a cada novo episódio, quando sou – abruptamente – interrompido pelo intervalo comercial. É uma frustração, e eu me sinto realmente um idiota de não ter baixado da internet sem intervalos e ter economizado 15min (isto mesmo, 15 inteiros minutos) de propaganda (normalmente, quando recorremos a algo pirata ou ilegal, a qualidade é pior. Nesse caso, baixo no mesmo HDTV e sem comerciais. Difícil resistir a tentação.).
                Mas até ai tudo bem. Ter de ver propaganda na tv a gente já se conformou, não é verdade? Afinal de contas, se eu gostasse de novela da Globo, eu teria sérios problemas, pois não teria que agüentar somente o comercial, mas também o intervalo de um dia inteiro. Então, no final das contas, até me sinto aliviado pelo fato de que séries mais, digamos, construtivas do que a novela da Globo tenham seu conflito criado e resolvido no mesmo episódio.
                Acontece que, durante o intervalo, a tela escurece. Passa-se um segundo em silencio, e aparece na tela um homem bem vestido segurando um violão. E ele começa a tocar, andando no escuro, enquanto canta e, ao seu redor, vão aparecendo ilustrações da letra que ele canta.
                Mano!... MANO!... Qual é o problema da NET?!?! Juro, assim, se fosse um comercial normal de TV a cabo, como o da SKY, eu nem reclamaria. Porque eles são idiotas, mas são idiotas na média,já que todos os comerciais brasileiros tendem a certa idiotice. Mas não. NÃO! A NET, com seu plano maligno de dominar o mundo (é sério!), tem que colocar um cara idiota cantando uma música idiota com um ritmo irritante. Já bastasse a porra daquele general de merda que tivemos que agüentar durante anos, dizendo “skavuska” ou seja la o que aquele ser indesejável dizia; agora temos que agüentar um cara de terno que se acha o foda andar com um violão na mão fingindo tocar e cantar (óbvio que é dublagem), e prometendo para mim que, se eu assinar essa droga de serviço (que só é bom porque a concorrência é pior), eu vou ter um milhão de amigos e uma família muito mais unida e feliz.
                MAAANO!... Normalmente, quando as empresas fazem este tipo de propaganda em que não vendem o produto  e sim alguma ideologia ligada a ele, elas disfarçam. A NET não! É de uma cara de pau tão grande, que o cara literalmente vira pra você e diz: olhe, assine a banda larga mais cara do mundo porque assim você vai fazer um milhão de amigos, ser O Cara do seu bairro, ter uma família muito mais feliz e bla bla bla. E o pior é que a música é ruim e forçada!
                Mas agora vem o mais genial. Sabe qual é a mais nova do marketing da NET? Quando você chama um técnico para sua casa, na porta antes de entrar, e tira duas “redinhas” do bolso e calça os tênis com elas. E esta é a prova de como a NET te ama e te respeita! Sendo que a redinha é tão fajuta que passa até uma barata por ela! Mas, sério mesmo, eu vou continuar com a NET porque, na próxima vez que este serviço ruim falhar, eu não vou ter de me preocupar com toda a sujeira que o pé do cara carregou do carro dele até meu apartamento (digamos, 50m, os mesmos que eu percorro 10 vezes ao dia).
                Peço desculpas aos meus leitores por tratar de um tema tão fútil e de uma forma tão rude. Mas tem certas coisas, como o Kassab e a NET, que me tiram do sério. É um misto de frustração e raiva (com uma pontada de tendência suicida), que nem muita terapia poderá concertar.
                Boa noite! Durma bem! Fo mal ter desperdiçado 10min de sua vida!

terça-feira, 15 de março de 2011

Entre cocos de cachorro e listras no chão.

            Quando você é um pedestre de um destes bairros classe-média lotados de prédios – Perdizes, Pompéia, Higienópolis, e por ai vai – você se depara com alguns desafios. Primeiro, indubitavelmente, você vai se deparar com alguma calçada sendo reformada. É impressionante – quase fantasmagórico – a quantidade de reformas em calçadas que são feitas diariamente. E mais impressionante ainda: não importa quantas forem feitas, as calçadas continuaram irregulares e ruins de andar. É uma regra, tal como o fato de que nós não devemos andar pelados pela rua, de que calçadas tem de serem tortas, mal feitas e lotadas de obstáculos, que variam do cocô do cachorro (ai que raiva!) até um enfeite de plantas ridículo que esta ali só pra ocupar espaço mesmo.
            Mas, no momento em que abandonamos a calçada, a coisa piora, pois significa que teremos que atravessar a rua.
            Sabe aquela lei que existe, e todo mundo sabe que existe, mas ao mesmo tempo a sociedade decretou que ela não será cumprida? É exatamente isto que acontece com a lei que determina que, na faixa de pedestre, a preferência é do... PEDRESTE! Mas, sejamos sinceros, querer que CARROS parem para PESSOAS atravessarem só porque tem algumas listras no chão, é uma utopia que a gente ouve falar de lá da Europa, mas que sabe que o brasileiro, com todo seu orgulho de ser brasileiro, nunca vai cumprir.
            Quanto as leis naturais – que a natureza teimou em impor – essas nós não podemos escapar. E é ai que surgem as ruas – quero dizer – os penhascos da rua Caiubi, da rua Paris e companhia. Enquanto a gente sobe, embaixo do sol e desviando de baratas mortas e cocos de cachorro, a gente se sente realmente pagando os pecados. Quando você finalmente chega la em cima, você tem certeza que, se depender de você, Deus perdoou o crime de Adão e todos os outros humanos.
            Mas nem tudo esta perdido. Digo isto porque sou pedestre nato – ando de ônibus e vou a pé para a escola – e venho percebendo um negócio muito interessante. Carros são controlados por pessoas! Assim como nós, pedestres! Então, tratando-se da mesma cultura, é possível – pasmem – contato social!
            E me arrisco a dizer mais. Me arrisco a dizer que, 90% das vezes, um contato social inicialmente positivo tende a ser retribuído com outro igualmente positivo! A física errou: positivos se atraem. Se de repente você quer atravessar a rua na faixa e tem vários carros andando devagar nela, tente olhar para o motorista e sorrir. 90% do tempo, este vai deixar você passar! Não é genial?
            Acredito que minha descoberta revolucionou meu papel social de pedestre. Agora, chego até a mandar beijos para motoristas que se mostram muito gentis. Por que aos poucos a gente descobre que fazer um favor ou ter um favor feito, da uma certa satisfação (nem que ela seja 100% irracional).
            Então sugiro a você que, quando for um pedestre, sorria mais, tente atravessar na faixa e acredite mais na possibilidade de contato social. Agradeça e, quando der, faça um favor. 90% das vezes, da certo. Mas é 100% melhor que ficar bravo e sair xingando todo mundo.
            Abaixo o mau-humor no trânsito!!!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tentação!...

            Quando a gente vive num mundo consumista como o nosso, a palavra tentação já é cotidiana. Na verdade, as vezes da mesmo a impressão que todo o mundo se desenvolveu de uma maneira que transforme as recompensas do nosso corpo, que antes eram necessárias, em industria. Quer endorfina? Vá a um sexy shop. Que feniletilamina? Coma chocolate. Um dia, sexo foi necessário para a reprodução, e a gordura e o açúcar eram difíceis de serem encontrados, e por isto mereciam um estimulo a mais para serem ingeridos. Hoje em dia, a gente só se aproveita destes mecanismos.
            E é por isto que existem as academias. Elas fazem muita fama: em perdizes, Pompéia, Higienópolis e companhia, você não anda mais que 5 quarteirões sem ver uma – e elas são grandes. É la que nós, humanos, orgulhoso, tentamos nos aproveitar de outro mecanismo da natureza: a atração sexual. Quando a seleção inventou que deveríamos nos atrair por corpos mais, digamos, definidos, ela estava pensando (mentira que ela não pensa!) em priorizar a reprodução de um gêneses mais forte fisicamente, o que era extremamente necessário antigamente, quando tínhamos de lutar por nossa sobrevivência. Mas, hoje em dia, tanto faz. Afinal de contas, a tal “selva de pedras” nem é tão selvagem assim. Mas, se a gente pode ficar com alguém mais gatinho ou mais gatinha se perder um quilinho e ganhar um músculo, por que não?  (que fique claro, pelo menos à minha namorada, que estou repetindo um discurso social).
            Então a gente corre na esteira. A gente nada quilômetros. A gente levanta peso. Tudo isso para se aproveitar de mais um mecanismo da natureza, alem de, claro, aumentar nosso orgulho próprio e auto-estima.
            Mas uma parte essencial de quem esta lá para perder uns quilinhos, é não se encher de doces e das tentações do fast food, supermercado e da padaria ali na esquina. É passar pela vitrine da ofner e fingir que não esta vendo aquela bomba de chocolate. Ignorar a sorveteria ao lado de casa. Enfim, negar a toda tentação da industria comilona.
            Ai que entra a verdadeira imagem da tentação. A objetificação do sentimento. O verdadeiro símbolo vindo diretamente do mundo das idéias de Platão!
            Uma maquina de doces!...
            Mas não é uma simples máquina. Quer dizer, a maquina é bem simples, você coloca um nota e sai um doce. Mas é o contexto histórico que importa. Porque a maquina está estrategicamente localizada na única saída da academia. Nem se você quiser sair sem olhar para ela você pode, pois ela fica ao pé da escada, então ou você olha para não cair na escada ou você não olha e da de cara no chão.
            Ai você olha, e bate aquela vontade. E você tenta reprimir: gordura, açúcar, barriga... Mas, do fundo de seu córtex cerebral, levando em conta o contexto histórico que você se encontrava a alguns minutos atrás, correndo sem sair do lugar... O ato de comer parece perdoável. A mão busca por uma nota no bolso quase que por impulso. Se ela encontrar... Já era.
            A cobra tem varias faces. Na academia, ela é uma maquina de doces.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Carência + Internet = Revolta?

                Não sou sociólogo, nem especialista em internet (isso tem nome? Internólogo?). Portanto, a função deste texto não é fazer nenhum tipo de afirmação acerca do tema trabalhado. Apenas buscar, superficialmente, uma visão que proponha algum tipo de reflexão simplificada sobre assuntos que demandam tanto conhecimento para serem debatidos.
                As revoltas populares que se iniciaram na Tunísia, no começo do ano, assustaram o mundo. Até porque fazia tempo que não se tinha uma noticia com tanta repercussão mundial acerca de uma manifestação popular contra um governo ditador. E, por outro lado, porque o mundo árabe já é, por si só, algo que assusta o mundo ocidental. Mas o que começou na Túnisia e logo se espalhou, a parte das condições sociais e políticas que permitiram uma onda tão grande de protestos, tem um ponto fundamental e interessantíssimo: a maneira como o acesso a internet muda tudo.
                Se é muito estranho para nós ver como o mundo árabe vive, deve ser igualmente estranho para eles verem como nós vivemos. E, por muito tempo, isto não significou grandes problemas, afinal de contas nós estávamos aqui, eles lá e o petróleo era controlado por pessoas amigáveis aos EUA. Isso era suficiente para uma co-existência, mesmo que nem sempre pacífica, mas consideravelmente separada, graças a um pensamento islâmico de oposição ao “imperialismo ocidental”. Claro que o capitalismo chegou no mundo árabe e teve enorme influencia, mas foi uma sociedade que, de modo geral, conseguiu se manter mais tradicional, em vários aspectos.
                Mas, numas questão de anos – uma década, talvez menos – isso tudo muda. Algum louco resolve interligar todos os computadores do mundo! E outro louco, resolve criar o facebook! Outro, cria o Twitter! E um grupo de estudantes nerds acaba criando o Google! E, de repente, todo o espaço entre essas duas culturas começa a se esfumar. A distância de milhares de kilômetros é viajada na velocidade da luz por bites de informação. E, de repente, em um local que se aproxima do “livre” (a internet), as duas culturas tem um espaço para se encontrar, se olhar, e não tacar uma bomba em cima da outra! Simplesmente se estranhar e tentar entender aquela coisa estranha que antes era muito longe dali. Ok, utopias a parte e sem me empolgar muito, é muito bonito pensar como a internet abre uma porta de comunicação entre culturas tão diferentes, e, reforço, mais do que apenas abrir uma porta, convidar para entrar e conhecer.
                Talvez tenha sido nesta conversa cultural, que as coisas tenham começado a mudar. Talvez uma cultura tenha muito a aprender com a outra, e uma das coisas que os árabes começaram a aprender conosco foi que, na maior parte do mundo ocidental, as ditaduras acabaram. Talvez eles nunca nem tenham pensado nisso! E talvez tenham gostado da idéia de não ter um ditador!
                E ai entra outra coisa bonita da internet: as redes sociais. Enquanto 33% do facebook só tem besteira, 33% é um diário com fotos e 33% é prostituição, sobra o 1% que nos interessa. É fácil, mais MUITO fácil, trocar idéias e combinar coisas. E quando há revolta, é muito fácil que esta revolta se espalhe! Basta dar um twitter e postar no seu mural do facebook! Você já avisou mais de 100 pessoas, que provavelmente vão se revoltar, e avisar mais 100. As pessoas começam a perceber suas carências. Do mesmo modo, elas tem em suas mãos uma poderosíssima arma de organização. Basta criar um protesto no facebook, e clicar em “convidar amigos”. Foi isto – ok, algo mais complicado, mas basicamente isto – que ocorreu na Tunísia. Uma grupo de estudantes, insatisfeitos, resolveu protestar. E eles conseguiram despertar o sentimento de indignação na sociedade. E eles foram as ruas indignados. E todo mundo ficou sabendo, e também ficou indignado. Porque as carências eram tão grandes e estavam tão a mostra, que é fácil se indignar.
                Daí surge o fato mais interessante disso tudo: o que move a população é a indignação. Não há uma corrente política teórica pronta para assumir o lugar, ou seja, a luta não é para introduzir uma democracia ocidental nem um comunismo nem nada do gênero. A luta é somente uma movimentação de uma população indignada. É algo realmente popular, que carece de heróis políticos ou mesmo guerreiros – o herói é o próprio povo. Talvez seja, realmente, o povo dizendo NÃO. Se na revolução francesa a burguesia se armava para tomar o poder e na revolução Russa os marxistas ajeitaram tudo, o que será de uma revolução movida unicamente pela indignação, pela vontade de mudar para algo melhor, por uma voz que diz “não” mas não propõe o que deve ser?!
                Batendo nas limitações conceituais sobre o mundo árabe e revoluções, basta dizer que há inúmeros caminhos possíveis para este novo tipo de revolução.
                Mas vale destacar que as mobilizações sociais não ocorrem apenas do outro lado do mundo. Aqui, no Brasil, elas começam – claro que com menos força, pois o brasileiro tem toda uma cultura ant-protestos e carências bem menores do que os árabes – mas já mostram que vieram para encher o saco dos políticos. Nunca o movimento para derrubar o aumento das tarifas de ônibus foi tão grande em São Paulo e em varias outras cidades, e tais protestos são 100% facebook. Ta tudo lá, e quem fica sabendo quase sempre fica sabendo por lá. Lembro-me também que quando os senadores se deram o aumento de 62% nos salarios, a indignação correu solta pelas paginas do facebook. Abaixo assinado virtual, frases irônicas sobre o assunto com vários “likes” do facebook, trend topic no Twitter Brasil, e por ai vai. E este movimento resultou em mobilização – uma mobilização pequena, mas que aconteceu em nível nacional. Foram diversos pequenos protestos em varias capitais, que infelizmente perderam o fôlego, mas que poderiam ter tomado outro rumo.
                Bom, fica ai uma tendência. O facebook ainda vai dar muita dor de cabeça para políticos brasileiros. Porque agora, quando o povo se indignar com as palhaçadas políticas, existem mecanismos fáceis de transformação da indignação em movimento social.
                Exagerado? Talvez. Mas não custa sonhar um pouco...